As Desquitadas

Chega de saudade

Separaram inesperadamente.

Um afastamento que surpreendeu a todos, sempre vistos como um casal perfeito e feitos um para outro.

Cinco anos de casamento. Quantos desejos e aflições.

Memoráveis momentos de amor.

Fica a pensar o motivo desse fim, mesmo com o passar do tempo que vai aliviando o vazio, ainda o ama, ainda o deseja demais. Ao fechar os olhos sente seu cheiro, suas mãos macias e ousadas, o calor de seu corpo, uma saudade tão profunda congela sua alma, a deixa como gelo.

Ele quis assim, sem explicações, sem pretexto, um dia não voltou para casa, não quis conversa para evitar uma dor maior.

Encontraram-se seis meses depois para assinar o desquite, apesar do amor sentido, ela não se opôs, faria sua vontade, e isso lhe custou tanto, abalou sua emoção, lhe fez perceber que o perdera decisivamente, mas presentemente consegue dominar a saudade, as lágrimas, a dor, o vazio na sua cama que ainda guarda o lugar dele.

É uma mulher apaixonada.

Deixou-o livre para escolher, afinal ninguém tem o direito de vetar a liberdade do outro.

Viveria no oceano da distância, o tempo não a mensuraria de forma alguma, ia curtir seu luto sentimental.

Foi o que fez.

Fechou a porta…

Cuidou da sua vida, como deveria ser, dedicou-se ao trabalho, resolvera fazer outro curso superior, se ocupava o máximo para não sentir a solidão. Esconder seus olhos tristes. Seus sonhos, doces sonhos, apenas sonhos de tê-lo novamente. Não amará outro alguém, não quer amar, pelo menos por agora.

E o vento soprou. O tempo passou. Lágrimas caíram. Sonhos se perderam. Vontades foram vencidas – de ligar – enviar SMS – ir atrás e se confessar – dizer: “como ainda te amo. Como preciso de você. Como estou vivendo sem motivos.”

Numa noite dessas saiu para jantar.

Escolhera o restaurante de costume.

Logo ao entrar se deparou com ele, estava tão belo, trajava uma roupa casual, a pele alva, a barba por fazer, a boca atraente, o mesmo perfume.

Sem graça, perdera o chão, parece que todos a olhavam, pudera, estava bela, como há tantos anos passados. Seu vestido de tecido leve cobria suavemente seu corpo até os joelhos, um salto exageradamente alto lhe deixava mais elegante, era sua mania usar sempre sapatos de salto alto. Uma discreta maquilagem fez seu semblante mais leve. Disfarçou sua dor.

Ele lhe fez um sinal. Sem saber o que fazer, aproximou-se de sua mesa.

__ Que bom lhe encontrar – disse ele.

Não disse nada, apenas sorriu.

__ Me faça companhia hoje? – pediu ele, pegando-a de surpresa, não esperava esse convite.

Tomaram um bom vinho.

Degustaram um maravilhoso cardápio.

Falaram do passado.

Riram juntos.

E, de repente, os olhos se encontraram, causando um silêncio profundo, como se tivessem sozinhos ali. O mundo era deles.

__ Eu te amo – disse ele, – casa comigo outra vez? Prometo que nunca mais lhe deixarei sozinha.

Os corpos se tocaram com tanto desejo, tanta vontade, tanta necessidade que é impossível descrever.

Agora, chega de saudade.

A cerimônia acontecera três meses após esse encontro.

E trinta anos se passaram.

 

 

 

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