Vitrines Da Vida

O sabor do beijo

Há meses não saía para uma diversão. Devido a uma desilusão resolvera dar um tempo de todos e do mundo.

Focou no trabalho, mesmo assim, de maneira abotoada, pois impedia aproximação dos colegas da empresa.

Isso lhe deixou tão nula, tão sem o que fazer.

Certo começo de noite, ao sair do trabalho, entrou num bistrô, iria tomar somente um coquetel. No entanto mudara de ideia.

Entre uma dose de uísque e outra, quando percebeu estava dentro de uma badalada casa de shows. O som ensurdecedor. Os casais se agarrando. Belos homens dançando sozinhos, sem camisa exibiam os tórax’s definidos.

Quanta gente bonita!

Logo estava de papo com alguém interessante.

E o beijou com tanta necessidade.

E o tocou com ousadia.

Acordou no dia seguinte, com o sol batendo no rosto, que entrava pela janela vidro, ao lado estava ele.

Tão belo.

Pele clara, corpo interessante.

Porém ela não se lembrava de nada, sequer se transara com ele. Muito menos o seu nome.

Levantou-se com cuidado para não acordá-lo, sentou-se na mesa próxima a cama, estava num motel, caíra na real, estava num motel com alguém que nem sabe o nome. Que situação. A cabeça latejava, a boca seca, ainda sentia o gosto estéril do uísque e o cheiro curtido do álcool.

Enquanto o jovem dormia, parecia ter vinte anos – tinha dezenove, ela tentava buscar na sua memória a noite anterior.

Sempre fora uma mulher comedida em suas ações, recatada, jamais fora para cama no primeiro encontro.

Abriu o frigobar, pegou uma água mineral gelada, tomou, sentiu-a no estômago como chuva no deserto.

Percebeu que ele já acordara, com um sorriso encantador, levantou-se depressa, deixando a mostra todo seu corpo, fitou-o da cabeça aos pés.

Após o sorriso a chamou pelo nome e fez um gesto para que se sentasse ao seu lado.

Sua vontade era fugir, afinal ele era somente um desconhecido.

Tentou beijá-la.

Não o impediu. A cena da noite anterior se repetia com detalhes.

E sua mente aos poucos foi liberando as lembranças, o sabor do beijo trouxe tudo de volta. O calor daqueles braços.

Quanto bem sentiu.

O efeito colateral da desilusão não mais lhe acompanharia à partir desse instante.

E, por muito tempo, se realizaram nos braços um do outro.

 

 

COMENTE

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.