As Desquitadas

As flores do jardim de sua casa

E toda noite o mesmo ritual se repetia como se fosse a primeira vez. Mais de dez anos de amor, sendo três quintos desse tempo, casados.

A velha história de amor. O primeiro olhar…

Entretanto as flores do jardim daquela casa morreram todas, logo após a mais vivaz verdade revelada. Foi tudo tão de repente.

O sofrimento substituiu o ritual.

Nada restou.

Soubera sem querer, até já supunha as traições do amado marido, mas muitas esposas preferem fingir que nada acontecera.

Esperam, depois da chuva que o jardim refloresça de novo. Mera ilusão. Apenas protelam a separação. Mancham o nome.

Viver separada lhe trouxe muitas coisas inesperadas, dores que não conhecia, saudade das coisas mais banais, até das brigas e discussões. Perdera respeito de algumas pessoas, parecia a todo tempo julgada e condenada.

Sentia-se enclausurada.

E por mais de dois anos se trancou no seu mundo vazio e triste. O mundo escureceu e sua rotina se repetia – casa e trabalho.

Precisava sair da rotina.

Necessitava refazer sua vida.

Provar outros beijos.

Nas férias, numa viagem ao litoral conhecera um jovem que a fez viver novamente, lhe fez esquecer a condição de separada.

Quando percebera já estava em seus braços, sem explicação, sem receio, sem reserva alguma, sentia aquele saboroso beijo, aquela pele quente e os toques que a enlouquecia a cada segundo.

Vivera como se tivesse na puberdade, esquecera que já passava dos quarenta anos, e na ocasião em que se preparava para reencontrá-lo, diante do espelho, foi que percebera a loucura que fizera, pois aparentemente ele deveria ter uns vintes anos, errou, pois ele tinha dezoito, apenas dezoito anos, no entanto lhe fazia tão bem, tão completa. Viva outra vez.

Decidiu se entregar inteiramente, coincidentemente moravam na mesma cidade.

Após essa temporada se encontravam todos os dias.

Ele era um jovem viçoso, feliz, que lhe arrancava sorrisos o tempo todo, sentia-se tão jovem ao seu lado.

Em seu pensamento já sabia em que algum momento ele partiria, a deixaria aos pedaços. Tipo vidro quebrado, de carro.

“Não vou pensar nisso agora, vou aproveitar a companhia desse menino o máximo que puder, assim quando ele for embora sentirei menos saudades” – pensava nos momentos de medo e insegurança.

Ele vinha com tudo. Com todo vigor e exageros. Com todos os carinhos que uma mulher carece ter. Com os beijos mais profundos. Com carícias inéditas. Com uma beleza bonita demais, pele clara, cabelos bem cortados, um corpo perfeito. Um abraço tão forte e aconchegante.

Tudo que nesse momento ela precisava para ser feliz, para esquecer o casamento fracassado, para voltar a sorrir. Ter motivos para viver.

Seu jardim estava bonito, florido como na primavera.

 

 

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