As Desquitadas

Fogueira

Em toda sua vida sentimental nunca se sentira completa, a cada novo amanhecer buscava sempre encontrar alguém que lhe fizesse bem. Tirasse seus pés do chão. Alguém que lhe despertasse a vontade de viver pra sempre ao seu lado. Alguém que tolerasse seus defeitos, que enxugasse suas lágrimas, que adivinhasse suas mais profundas fantasias.

E se jogava na balada.

A noite se tornava esplêndida, após alguns drinques, alguns beijos, alguns abraços. Alguns gestos.

A música eletrônica abafava o som dos corações acelerados. A iluminação local fascinava e deixava as pessoas mais bonitas do que de fato eram.

Ele surgiu em meio a esse encanto, veio sem pedir licença, com audácia, despertando um desejo difícil de explicar. No cio.

Após dois anos se casaram perante a família e amigos.

Uma temporada na Europa para a mais tórrida lua-de-mel que já se ouviu narrar, foi o ocorrido.

Foi tanto amor.

Quantas carícias, quantos carinhos. Murmúrios de amor, a respiração profunda cessava o silêncio naquela ampla suíte de hotel.

Um ano depois e o fogo ainda queimava nos corpos quentes.

Mais um ano e nada mudou.

Tinham os mesmos gostos. Quanta aflição na colisão das peles.

Tocava-lhe todo. Beijava sua boca gostosa, percorria a língua no seu tórax definido, sentia seu cheiro, o gosto do seu suor, descia até a virilha e degustava, tudo por ali, sem moderação. Inebriantemente continuava seu percurso até perder as forças.

No terceiro ano a solidão veio invadindo seus pensamentos. Tudo perdera o sabor, assim sem mais nem menos.

Noites iguais, sem estrelas, sem sentido, sem emoção.

E assim o amor foi substituído por um vazio inexplicável. Buscavam em outro alguém o que perderam em alguma curva da vida.

Saíam separados, cada um com sua turma. Sempre ao chegar em casa ou ele ou ela estava dormindo. Nem assunto tinham para conversar.

Imaturos não souberam conviver com a situação, não definiam bem um casamento. Não puderam vencer a crise de cada ano que joga sempre um balde de água fria na fogueira. Sem desejo o casal perde a referência do que é fidelidade.

Decidiram sem brigas, pelo divórcio, tudo consensual, sem drama. Assinaram o adendo desfazendo o contrato formado diante de tantas pessoas, agora estavam somente os dois e seus advogados. Tudo tão sem cor. Sem sorrisos, sem felicitações. Chegara o fim da linha.

Nem sequer um desejo de boa sorte. Desquitados – separados judicialmente. Sem saber o que fazer. Sem casa. Sem sensação.

Ela vivera toda a dor de uma mulher nessa situação, mesmo sabendo de sua parcela de culpa, embora no século XXI, sabia bem o peso dessa condição.

Seguiu em frente e alguns meses depois, queimava de prazer toda noite, completa e realizada como jamais sentira em seus trinta anos de vida, nos braços de outra mulher.

 

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