Vitrines Da Vida

Lua-de-mel

Bem-sucedida. Exuberante beleza. Perspicaz. Apreciada por tantas pessoas. Tinha menos que quarenta anos. Vivia um casamento do qual não falava muito.
Como todo ser humano possuía defeitos e qualidades. Carregava seus traumas, seus desejos, seus sonhos, suas fantasias. Ah! E que fantasia!Apesar do belo sorriso, seus olhos estavam sempre tristes. Sem brilho. Apagados e tenebrosos tipo noite sem estrelas nem luar.
Quando jovem muito mais jovem do que hoje, sentia-se livre e independente. Com os anos foi perdendo a segurança de viver.
Agora, seus pensamentos estão tão modificados…
Seu modo de enxergar a vida.
E manter os pés firmes é uma tarefa difícil. Sente-se abatida.
Segue na estrada estreita e longa.
Tropeça, muitas vezes cai, e tem vontade de ficar ali encolhida no chão, ignorada e transparente. Encontrar um lugar solitário – e bem sabe o porquê disso tudo. Sempre soube.
Ah, se seus olhos não a traíssem!
Poderia viver cada dia com uma máscara diferente. Sem ser questionada. Sem ter que dar desculpas – inventar um falso sorriso – seu escudo.
Não consente que ninguém entre em seu mundo.
_ Na minha vida não existe escala de tempo – diz a si mesma mirando-se no espelho. Fez dessa frase sua verdade.
_ Nenhuma verdade é mentira – garante.
É uma mulher apaixonada. Uma paixão proibida que não pode viver e nem compartilhar com ninguém.
_ Esse meu segredo levarei comigo!
Ocorrera na lua-de-mel. Estava em Copacabana.
O esposo bebeu demais e caiu num sono profundo. Ela viu seu sonho todo se resilir, pois se preservou para ele. Ficou sentada numa poltrona de frente à cama observando o recente marido, bêbado, babando e roncando.
Quanta frustração.
Arrancou o vestido de noiva. Tomou um delongado banho. Lágrimas!
Sentia-se tão reprimida. Necessitava respirar. Talvez ao caminhar na praia essa péssima sensação passaria.
Vestiu um vestido casual. Retocou a face com uma leve maquilagem.
Desceu até o saguão do hotel.
Mudou de ideia, afinal com tanta violência, melhor ficar por ali mesmo, dirigiu-se ao Scoth bar.
_ Um drinque, por favor – pediu educadamente.
Ficou alguns minutos contemplando o copo e rodando a bebida.
_ Posso te fazer companhia?
Ao mirar aquele homem experimentou alguma coisa incomum.
Tudo foi muito mágico.
Não se lembra de quanto tempo depois estava no quarto dele.
Sem ressalva se entregou.
Foi despida…
Sentia-o dentro de si. Seu primeiro orgasmo. Uma vibração que esbraseava da cabeça aos pés.
Foram as horas mais felizes vividas na sua vida.
Depois do ato súbito, contou-lhe sua situação. A despedida foi a reprise do ocorrido.
As horas pararam.
Quantos beijos!
Quantos abraços!
Carinhos!
Um odor deleitoso de sentir.
Um calor tão bom.
Não saberia definir tudo – talvez precisasse inventar uma nova expressão.
Na antemanhã voltou para seu quarto, seu escuro mundo. O marido ainda dormia.
Foi a partir desse acontecimento que seus olhos apagaram, nunca mais viu aquele que a satisfez inteiramente.
Seu olhar entristeceu. E apagou…
E nas suas noites de amor por ele era amada. No seu mundo. Na sua imaginação, nada além, nada além.
Mas quando abria os olhos, despertava para realidade – a presença de seu esposo.

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