Vitrines Da Vida

A Tatuagem

Adorava vaguear pelas ruas nos dias quentes de qualquer estação. Os olhos funcionavam como um radar. Ao longe já identificava a paisagem que dava-lhe uma contentação inexplicável.
Tinha vinte e poucos anos. Olhos verdes feitos folhas de alface. Boca felina. Corpo comum… passava sempre despercebida.
Mas dos seus olhos nada escapava.
Logo que surgia um jovem tatuado, lá estava Tina sentido-se feliz.
Era como se sua fome fosse saciada.
Tatuagens tornaram-se o seu fetiche.
Gostava de contemplá-las indiscretamente.
Nos braços bem definidos de peles alvas.
Nas panturrilhas expostas, afinal o jovem geralmente trajava bermuda ou calça capri.
No pescoço.
No tórax.
Nas costas.
Numa parte oculta ou não.
Em qualquer lugar visível lhe dava júbilo.
E assim Tina andava distraída pela cidade, até que um dia ao atravessar a rua, foi atropelada por um carro.
O rapaz que passava por ela no momento ainda voltou para ajudá-la e a última imagem que os seus olhos viram foi a tatuagem de um dragão, naquele braço tão perfeito e alvo.

COMENTE

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.