Adaptações

Coração ferido

Há muitos anos viviam numa fazenda, um cavalo e uma borboleta.
Mesmo sem ter nada em comum e serem de espécies diferentes, se conheceram, começaram a conviver e criaram um grande elo – uma verdadeira amizade.
A borboleta sempre fora livre, voava por todos os cantos da fazenda enfeitando a paisagem, era admirada demais, mas o cavalo, tinha grandes limitações, perdera a liberdade, fora comprado por um homem que o mantinha no cabresto.
A borboleta tão popular, livre e amiga de muitos outros animais, gostava de fazer companhia ao cavalo, agradava-lhe ficar ao seu lado, sem pretensão, sem pena, porém por companheirismo, afeição, dedicação e carinho.
Todos os dias, ia visitá-lo e lá chegando sempre era recebida aos coices, raramente recebia um sorriso, mesmo assim optava por esquecer o coice e guardar dentro do seu coração o sorriso.
Na realidade o cavalo insistia com a borboleta que lhe ajudasse a carregar o seu cabresto por causa do enorme peso, muito carinhosamente, ela tentava de todas as formas ajudá-lo, mas isso não era possível, não tinha forças, era pequena e frágil para tal tarefa.
Certa manhã de verão a borboleta não apareceu para visitar o seu companheiro. Ele nem percebeu, preocupava-se em se livrar do cabresto. Não olhava ao redor.
E vieram outras manhãs…
Outras tardes…
Outras noites…
Passaram-se dias, semanas e num certo dia triste e frio, o Cavalo sentiu-se só.
E sentira pela primeira vez falta da sua amiga. Percebeu a sua ausência. Ficou com a pulga atrás da orelha, todavia se importava só com seu problema, o seu cabresto. Depois de muito pensar, cedeu à saudade e decidiu procura-la.
Uniu forças e se livrou do cabresto que lhe prendera por tantos anos, fora bem mais fácil do que imaginara. O dito popular diz – quem quer faz.
Caminhou pela fazenda observando tudo. Procurou, procurou e não a encontrou. Exausto se deitou na sombra de uma árvore.
Um gato se aproximou, curioso por natureza, quis saber quem era.
__ Sou o cavalo do cabresto.
__ Você que é o famoso cavalo – disse desconfiado, com ar debochado.
__ Famoso? – surpreendeu-se.
__ Tínhamos uma amiga em comum e ela falava muito bem a seu respeito. – disse o gato, outra vez com ar de deboche.
__ Deve ser a borboleta, estou há horas procurando por ela.  É uma borboleta colorida, feliz, com uma energia tão boa que me visitava todos os dias.
__ É dela mesmo que estou falando. Pelo jeito não ficou sabendo – fez uma pausa, balançou o rabo – ela morreu. Já faz um bom tempo.
__Como foi isso? – perguntou chocado, com um nó na garganta e lágrimas nos olhos.
__Seus coices a mataram, ela estava sempre ferida, com marcas no corpinho, Voltava da sua visita de coração ferido. Entretanto sua amizade era tão especial que guardava unicamente os momentos bons e as conversas agradáveis, os coices ela preferia esquecer e sempre falava de você com alegria e satisfação.  Contou-me que você era um grande amigo, mas sem querer e impulsivamente lhe dava tantos coices.
O gato fez uma pausa, engoliu um soluço e miou:
__ Com isso a coitada acabou perdendo as asinhas, adoeceu e morreu.
Dominado pelo desespero e arrependimento o cavalinho derramou um pranto de dor.
__ Até íamos lhe avisar, mas ela pediu o seguinte: “Não perturbem meu amigo com coisas pequenas, ele tem um grande problema que eu nunca pude ajudá-lo a resolver.  Carrega no seu dorso um cabresto, então será impossível ele vir até aqui.”

COMENTE

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.