Vitrines Da Vida

Sem despedida

Sua asseveração acalmava os ciúmes. Quanto mais o tempo passava mais possessiva Edna se tornava.
Queria manter seu noivo como refém.
Tomava conta de toda sua vida. Conduzia todas as situações. Vasculhava seu celular, sua agenda, e quando tinha oportunidade suas roupas, gavetas, enfim tudo que pudesse fazê-la sentir-se mais segura.
Isso tudo o deixava desequilibrado. Tinha receio de olhar para o lado e a noiva logo criar suas perversas fantasias. Submetia-se a esta prisão devido ao amor sentido. Fora criado tendo em destaque os valores humanos. Mentira, traição e fazer qualquer mau a alguém fugia totalmente de suas virtudes.
Homem decente. Embora a família fosse pequena preservavam o de melhor que um ser humano pode ter – bom caráter.
Junio é o homem que toda mulher sonha ter.
Porém Edna não o avistava assim. Brigava com a neurose. Tentava afastar os fantasmas, fazia de suas vidas uma loucura.
Para evitar mais feridas, Junio partira. Fora para o exterior. Essa decisão lhe causou tanto desconforto, tanta tristeza, entretanto não tinha outra solução.
Edna a cada dia se tornava mais demente.
Ficava na porta do trabalho dele, esperando-o. E quanto escândalo cometera sem razão; agrediu pessoas que nem entendiam o que estava ocorrendo.
Junio sentado naquela sala ampla e ainda vazia tirou a camisa e tateou a cicatriz, fora o que restara. As lembranças…
Fora para a confraternização de fim de ano da empresa. Como todos os funcionários tinha direito de levar um acompanhante. Levou sua amada.
Depois de beber em exagero, cismou que ele estava olhando para uma colega de trabalho. Não disse nada.
O evento ocorrera num sítio durante um domingo.
Piscina, churrasco, música ao vivo e o amigo secreto.
Edna caminhou até a churrasqueira pegou a faca e inesperadamente esfaqueou o abdome dele.
Ao perceber o ocorrido os presentes entraram em pânico.
Junio não sentiu dor, somente foi se distanciando de tudo.
Ficara cento e dois dias em coma profundo.
Por fim a equipe medica já perdera a esperança de uma reversão no seu quadro clínico.
Quanta tristeza sentia sua família.
“Ele é um pedaço de mim! Não pode partir”, lamentava, desesperada, sua mãe.
Edna fora detida, porém em menos de setenta e duas horas estava livre, desfrutara dos benefícios da lei.
Aos poucos ela caira na real do que fizera. Entrou em profunda depressão. Certa noite foi encontrada falecida, ao lado da cama caixa de medicamentos. Ingeriu dezenas de comprimidos deitou-se para dormir e nunca mais acordou.
No exato momento de sua partida, Junio voltara do coma.
Nem ele, nem a família nunca ficaram sabendo do ocorrido com Edna.
Quantas vezes pegou o telefone para ligar…
Sofria por seu amor sem despedida.

1 COMENTÁRIOS

  1. É incrível a reação do ser humano diante de um sentimento de posse…
    Muito realista seu conto Silvio, infelizmente é só abrir os jornais e deparamos com casos assim.

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