Vitrines Da Vida

Em qualquer lugar da casa

O tempo a fez tão infeliz. Tão consumida pelas moléstias emocionais. Começara na infância quando tantos sonhos foram abandonados.
Sonhos de menina que à época se abreviara a ter ou não certos brinquedos e certas guloseimas. Coisas de infantes.
Na adolescência vivera tantos amores platônicos.
Sentimentos que lhe fizera tão incomodada.
O tempo passou.
Casou-se com vinte e cinco anos, apaixonara-se por homem dito ideal, apesar de não ser bonito tinha a inteligência aguçada e era bom de cama.
Casara-se por impulso.
Na ocasião vinha de tantas relações abortadas.
Gabriel lhe trouxe calmaria no coração, deste modo, mesmo sem ama-lo, se casou.
No começo tudo fora bom demais. Jantavam juntos, após chegarem de seus trabalhos, e muitas vezes o jantar ficara para segundo plano, pois a saudade e o desejo vencia a fome e os levava para a cama, ou no sofá ou na cozinha. Nos finais de semana, nas noites de calor ou de frio se amavam sem precaução, em qualquer lugar da casa.
Eram tantos beijos, tantos abraços, tantas coisas que somente os dois sabiam, tantas coisas que a deixara louca a cada contato.
E foi assim que se apaixonara por ele.
Quando se deu conta já o amava. Amor germinado espontaneamente e cultivado, por ele.
Depois da certeza daquele sentimento, Gabriel se sentira seguro e apesar da ressalva de beleza sempre notava os olhares em sua direção, especialmente de outros rapazes, quando estavam em algum de banheiro de shopping ou lanchonete.
E passar por ali virara seu vício.
Adorava ser apreciado por eles.
Certo dia, após não resistir outra vez ao pecado, foi olhado, foi tocado. O jovem da vez fora ousado, estavam num shopping e ele o puxou para um dos banheiros.
Gabriel sentira tanto prazer naquele instante.
Foi realizador.
Voltou para casa sem saber como encarar a esposa, sem saber se ela enxergaria em seus olhos a pensada traição.
Ela não percebera nada de imediato, o problema dele foi que não conseguira sustentar o mesmo desejo de antes, aí sim ela percebera algo errado.
Fazia-lhe as mesmas carícias e ele simplesmente não se excitava, pudera, além das visitas aos banheiros, também se acabava na masturbação assistindo filmes eróticos gays.
O resultado foi solidão. Solidão dela. Sentia-se rejeitada, mal amada, questionava-o na intenção de obter a perversa confissão.
Ah, se ela soubesse seu verdadeiro desejo.
Fora traída sem clemência alguma.
Fora rejeitada sem discrição.
Isso tudo a deixara tão mal com si mesma. Suportou essa ocorrência por mais dois anos. Após investigar a situação chegara à conclusão do que ocorria com seu amado, o esperou naquela noite, como em todas as outras que estiveram juntos.
O jantar.
Os carinhos sem resultado. Tocou seu membro sem ereção. Cheirou sua pele fria. Desligou a TV.
Durante duas horas virou na cama para lá e para cá, com um nó garganta.
Levantou-se, foi à cozinha, pegou uma faca afiada, voltou ao quarto e o esfaqueou sem piedade, até sua última gota de sangue banhá-la toda.
Agora, assim ela se sentia limpa.

 

COMENTE

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.