Olhar para trás causava-lhe uma sensação impossível de explicar.
Quantos sonhos perdidos.
Quanta desilusão.
Faltou-lhe o ar.
Agora, parada, calada, a meia luz, com um copo de uísque na mão, tentava afogar seus dilemas.
Há muito tempo não vivia uma crise assim.
Apesar do sofrimento intenso, tentou se esconder detrás de um sorriso.
Passava levemente a mão em seu próprio rosto.
Levantou-se caminhou até o bar, no fundo da bem decorada sala. Tudo muito combinado. Aprimorado.
O fundo espelhado refletiu sua imagem.
“Como o tempo me mudou.”
Afinal fazia dias que não se deparava com si mesma, no espelho.
O espelho nos revela.
Olhe no espelho.
Seus olhos tristes lhe fere feito um punhal bem afiado.
A pele já apresentando as primeiras marcas do tempo.
Bem diferente de quando tinha somente dezoito anos, e isso tem simplesmente doze anos. O amanhã chega depressa.
Até se iludiu realizada.
Carreira profissional estabilizada.
Relacionamento tipo sol de verão.
Isso ontem…
O ontem parece perto, mas avaliando bem o percebe tão distante.
Anos e anos…
A luz se apagou.
Sua vida sentimental se tornou invernosa.
Seu profissionalismo se perdeu.
É, há muito tempo não se sentia assim.
Falida.
Triste.
Mal amada.
“Desrealizada”.
Tomou mais um gole do uísque puro. Amargo igual ao seu viver.
Sozinha continha as lágrimas, se fosse liberá-la choraria tanto.
Choraria a noite toda, o dia todo… o mês todo… até se sentir aliviada.
Choraria até criar coragem de quebrar seu espelho, se refazer.
Mas teve coragem unicamente de se embriagar.
A sua realidade estava dolorida demais.
Não quis mais sonhar.
Aproximou-se da janela e se jogou do décimo andar.
De lá até o encontro com o solo de concreto, respirou o ar que lhe faltava. Liberou às lágrimas contidas.
Em nenhum momento se arrependeu da decisão de deixar de viver.
O encontro do seu corpo com o chão lhe causou um alívio sem medida.
A seguir tudo acabou, assim quando se dorme pesado, sem sonhos, sem pesadelos.
Sono profundo. Sono eterno