Vitrines Da Vida

O ritual

Viviam em Manchester.
Mostravam-se um casal perfeito.
Ambos viviam entre as celebridades, sempre apareciam nos programas de TV e em fotos nas revistas. Harley é um milionário bemsucedido. Com menos de trinta anos tinha uma beleza apreciada por todos. Com mais de um metro e noventa, corpo esbelto num peso bem distribuido, o que lhe deixava ainda mais atraente. Os olhos castanhos claros, vez e outra, mudavam de cor. A pele alva, cabelos anelados num tom ruivo quase marrom. Assim que Deborah o fitou a paixão foi infalível. Além de toda sua beleza, tinha uma cordialidade ilimitada, um cavalheirismo sem medida. Dotado de romantismo, sequer quis levá-la para cama nos primeiros encontros, como habituam fazer os jovens da atualidade.
Deborah se sentia cada hora mais apaixonada. Sua vontade era pedir que lhe amasse até a exaustão.
Ela também se realçava na sua profissão, modelo reconhecida, tinha uma agenda preenchida pelos próximos cinco anos.
Harley transmitia tanto enigma… em algumas ocasiões agia de maneira elusiva. Proprietário de uma inteligência sem limites. Tudo dominava. Tudo sabia. Seu dom de seduzir fazia parte do ritual para executar a mulher que o amava.
Fora assim todas as vezes que matou.
Tudo era muito articulado e calculado. A execução só viria depois da certeza do amor – o enlace.
Deborah seria em breve sua vítima.
Após seis meses de imensa sedução, e de se mostrarem apaixonados, casaram-se numa cerimônia restrita e longe dos holofotes.
Viajaram em um avião particular rumo a lua-de-mel. Hospedaram-se em um hotel na Apalachee Parkway, Tallahassee, capital da Flórida.
Na primeira noite tudo foi nostálgico.
O instante que toda mulher apaixonada sonha e assiste nos clássicos românticos da sétima arte. Quanta realização!
Os dias foram usufruídos com programas comuns de qualquer turista.
Na segunda noite, jantaram, tomaram um valoroso vinho. E outra vez Deborah viveu uma inolvidável noite de amor.
Na terceira noite, após um orgasmo inédito, Deborah sentiu seu peito ser penetrado por um fino punhal, ainda consciente, no túnel da morte viu seu homem perfeito sugar-lhe o sangue feito um vampiro faminto.
Tudo se tornou escuridão.
Harley contemplou satisfeito quem o amava sem vida sobre a cama.
Bebeu algumas doses de uísque.
A seguir talhou cuidadosamente todo corpo. Abriu a mala e acomodou cada pedaço, como se arrumasse ali, apenas peças de roupas.
_ Fecha a conta, peça alguém para vir receber no quarto – pediu friamente.
Alguns minutos depois, cruzou a porta de saída, com sua bagagem.
_ Quer um táxi, senhor?
Ele nem respondeu.
Dias depois, o corpo de Deborah, foi encontrado na mala dentro uma lata de lixo.
Harley já estava longe à caça de um novo entretenimento.
Voara para o Brasil.
_ Dizem que lá tudo termina em pizza! – pensou ao comprar a passagem.

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