A casa era muito autêntica, construída no final da década de 50 em uma fazenda simples. As paredes eram feitas de embiras trançadas em caibros fundados no solo e o reboco de barro. O chão era tão branco, passava-se nele um barro branco chamado tabatinga. A decoração se consistia em quadros de santos e fotos da família nas paredes. Na cozinha o tradicional fogão de lenha, panelas de pedras. Pratos e canecos esmaltados. Tudo muito comum e memorável.
Ali se ouvia histórias de lobisomens, mulas sem cabeças, aparições de pessoas mortas.
Um fato muito narrado foi de uma família de posses que morava na região. Tinham pra mais de dez filhos que viviam brigando e proferindo palavras vistas como chaves de maldições.
Ali o desassossego era intenso. Dia e noite ansiavam paz.
Com o tempo uma praga tomou conta da fazenda. As plantações não vingaram. O gado foi atacado por moscas verdes e todos os dias ao amanhecer, lá estavam diversas vacas mortas.
A galinhas, os porcos, os cavalos, os gatos e os cachorros também adoeceram.
Por fim a privação de alimentos chegara naquele local. A miséria se aproximava mais e mais. O genitor decidiu mudar imediatamente. Colocou a fazenda a venda por qualquer preço, juntou a família e o pouco que lhe sobrou e se mudaram para uma cidade ao lado.
Na época a mudança foi levada por carroças o que demorou dois dias.
Ao chegar à nova moradia, levaram um tremendo susto, pois o pilão que haviam deixado para trás, estava lá no meio da cozinha, sentado sobre ele um ser sobrenatural que os questionou:
“Vocês me chamam tanto e mudam sem me avisar. Vim trazer o pilão que esqueceram.”