Vitrines Da Vida

Novembro

Noivos há mais de dois anos, não conseguiram refrear e foram para cama inúmeras vezes, dilema de muitos namorados, excedem o limite e quando chegam ao casamento não têm mais novidade nenhuma, fizeram tudo antes, sem compostura, sem temor, se estimularam de todos os jeitos.
Não hesitavam quanto ao que sentiam, se amavam legitimamente.
Mas quem ama também trai…
Essa inquisição tem corroído os dias de Sabrina, seu noivo pecou, pecou irracionalmente, possuído pelo desejo eventual, desses que brotam no meio do dia sem pedir autorização. O pecado fora tão satisfatório que voltara a cometê-lo diversas vezes, foi se tornando um vício bom.
Nos primeiros meses de relação fora extremamente fiel, devotado. Nem podia chegar perto dela que já estava pronto, insano, não conseguia se segurar e ela alternadamente o fazia chegar ao fastígio.
No aniversário do primeiro ano de namoro a entrega fora inevitável. Jantaram num seleto restaurante, beberam um bom e caro uísque, após a degustação foram para um motel.
Foi muita indecência, nem dá para descrever.
Foi muito desejo, ambos jamais sentiram tanto prazer. O novembro estava fresco, uma chuva morosa afagava o calor dos últimos dias. Para Sabrina foi uma maneira de vencer o tédio já que esse mês lhe traz sensações desagradáveis, pois a aproximação do final de ano a deixa em pleno mau humor, pois detesta as comemorações natalinas, se aborrece abundantemente.
Depois daquela noite, se saciavam sem reservas, não tinha dia nem lugar, a todo instante se descobriam possuídos pelo desejo, tinham relações sexuais calorosas, dessas que deixa qualquer um com água na boca e numa situação complicada demais.
Posteriormente sem mais nem menos o desejo foi cessando, isso a deixava desconfortável, a deixava cheia de desconfianças.
Sua intuição não falhou.
Certo dia, ele lhe contou os seus pecados.
Cada palavra lhe trazia uma dor dilacerante, sentiu-se aos cacos, morta.
E depois de tantas lágrimas, pensou no casamento marcado para o próximo ano, o perdoou.
Pelo menos raciocinava assim, crera que o perdão é algo simples, isso lhe deixou tão mal com si mesma. Perdeu o ensejo de viver, assim de repente, passava os dias em branco pensando no que ele fez e no que poderia estar fazendo na hora em que não estava por perto, entretanto não queria perdê-lo, o amava e o odiava ao mesmo tempo, queria vê-lo longe e perto, queria matá-lo, mas o queria vivo, passara viver em um conflito sem comedimento.
Entregou para que o tempo resolvesse a situação, mas nada foi resolvido, mais um novembro chegara, e ela continuara em seus braços, tentando ser tocada verdadeiramente pelo perdão, tentando não se sentir tão infeliz e incompleta nas noites em que passa horas em claro.
Ainda se ilude com a possibilidade de perdoar – a traição – tantas traições com pessoas que não significaram nada, que foram apenas usadas sexualmente.
Em tantos momentos precisa chorar para desafogar sua dor, seu sentimento, até conseguir forças para descer na próxima estação.

1 COMENTÁRIOS

Deixe um comentário para Amador Maia Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.