Vitrines Da Vida

Em vão

“Confessa que me amou. Confessa que jamais me esqueceu, que a saudade bate na janela do seu quarto em cada amanhecer. Professa que me ama na imaginação. Assim padeceremos menos, deste modo amenizaremos nossas tristezas nos dias em que nos perdemos em tantas coisas para fazer. Confessa. Confessa sem pudor. Confessa apenas confessa.”
E, não é que Luana está totalmente coberta de razão. Ele precisa confessar o seu amor. Hoje vive casado, sem sonhos, cumpre seu papel de esposo com apego, mas na cama seus gestos não passam de obrigações, é como comer doce sem açúcar.
Ela não o entende, jamais o entendeu. Hoje as pessoas são livres para fazerem suas escolhas, ninguém é obrigado a nada. Não há medo que justifique uma opção que lhe gerará frustrações por toda a vida.
Todavia ele quis assim, se casou devido a uma gravidez inesperada de uma “ficante” na época. A realidade é que tudo fora intencional, achou que o filho seguraria o homem por quem se apaixonara, dito e feito.
E o tempo se tornou seu inimigo, porque somente fez aumentar seu vazio, sua vivência tornou-se uma catástrofe.
Luana tentou seguir outro rumo.
Divertira-se muito
Jogara-se em tantos braços. Sentira tantos abraços. Percorrera por algumas camas frias, mas nada além disso, pois seu coração estava fechado, intocado. Estava certa do seu sentimento. Sem inquirições.
Presentemente, muitos e muitos anos depois se deparou com as fotos dele numa rede social, no álbum de um amigo em comum.
Bem diferente ele pousa ao lado de amigos, esposa e filhos, sempre, com um copo de cerveja na mão, com olhos tristes, com uma expressão de felicidade forçada. Luana o conhece em excesso. Distingue cada expressão.
Cada gesto.
Cada tom de voz do homem que amou, do homem que ama.
O corpo mais forte ainda expõe a pele clara, quem sabe ainda tenra, a mesma tatuagem feita em sua homenagem – segredo dos dois – acredita que ninguém soube e nunca saberá, há segredos, que de fato, levamos para a eternidade, embora o sorriso devido ao efeito da bebida, compreende que está sofrendo, que não está completo e feliz.
“Eu também não estou feliz” – admitiu apreciando cada foto, com lágrimas nos olhos, com estreiteza no coração, com uma alucinada vontade de ligar para ele e se declarar mais uma vez. Falar que seu amor continua o mesmo de ontem. Seria em vão dizer “te amo muito, ainda te amo muito”, como das outras vezes.
Seria em vão gastar sua saliva, suas palavras. Seu tempo. Sua emoção. Seria em vão, seria em vão, seria em vão…
Desligou o tablet, suspirou profundamente, pegou a toalha, foi para o banho. Abriu a ducha forte e deixou a água se misturar às suas lágrimas.
Ah, quanta saudade. Caíra na real de como vivera sem sentido, todos esses anos.
Vivera por viver. Sem motivos.
Cair na real de que a frustração lhe fizera companhia por tanto tempo gera em qualquer ser humano uma sensação de derrota, de fracasso, uma sensação inexplicável.
A mudança se torna essencial para voltar a sorrir verdadeiramente.
Luana estava lavando o corpo e alma.
Daqui há alguns meses contarei o resto da história.
 

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