Vitrines Da Vida

Dez centavos

Quase todos os dias passo pelo quarteirão daquela rua estreita no centro da cidade.
Para mim é normal o movimento para lá e para cá.
Mas aos domingos ali é calmo demais. Nada de barulho, nada de pessoas… Somente uma voz lamentosa e fanhosa incomoda os poucos pedestres.
“Me dá uma ajuda! Dez centavos serve…”
Repetidamente, uma senhora com mais de cinquenta anos, diz a mesma frase, bem pontuada e pausada.
Ela é negra, com excesso de peso, sem dentes na frente, observando melhor nota-se que têm somente alguns atrás. Muitas vezes está com uma criança no colo, pronunciando a mesma coisa. O interessante é que cada vez é uma criança diferente, com idades entre três e seis anos, bem distantes de ser parentes dela, talvez sejam crianças de aluguel.
Assim, como esta senhora, existem dezenas de pedintes pela cidade, cada um usa o que acha que vai enternecer alguém. São histórias e mais histórias. São pessoas se passando por doentes e ali expõem até receitas e pedem ajuda – muitos remédios eles podem encontrar no posto de saúde.
Uns deitam-se no chão e colocam um bilhete comovente.
“ Tenho uma doença grave e presiso comprar o remédio, peso sua ajuda. Pode ser qualquer valor. Deus abensoe vocês e sua familha.”
Até os ônibus são usados. Uns exigem mesmo na cara de pau. Outros arranjam algo para vender.
Assim vão tentando conseguir algo seja lá para o que for.
E a senhora, continua, todos os domingos na mesma rua.
Dificilmente alguém desperta e lhe dá nem que sejam os dez centavos.
Depois de horas a latinha de leite condensado vazia já contém umas míseras moedas.
Ela então, balança a latinha…
“Me dá uma ajuda! Dez centavos serve…”

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