Vitrines Da Vida

Amor Estúpido

Ana e Bruno se conheceram casualmente. Desses encontros marcados pelo destino.
Era sábado, mês de setembro, praticamente inicio de primavera.
Ana nunca vivera um verdadeiro amor. Nunca tivera grandes emoções. Mas esse encontro mudou a sua vida.
Ao sair da faculdade deparou-se com ele a sua frente. Foi fatal! Os olhos se encontraram dispensando qualquer comentário.
Bruno mostrava-se em desmedida tristeza. Casado. Desses casamentos precoces que nunca deram certo.
Na semana seguinte, Bruno e Ana encontravam-se todos os dias. Conversavam os assuntos mais banais: música, trabalho e estudos. Nada além.
Ambos estavam dominados pelo sentimento da paixão. Mas nenhum dos dois tinha coragem de tomar qualquer atitude que pudesse fazer explodir aquela atração que ultrapassava um longo tempo em silêncio.
Naquela noite se encontraram, Bruno tomou a liberdade de ser ousado.
– Ana, quero você – disse sem rodeios.
Ela forçou um sorriso. Respirou fundo e aninhou-se naqueles braços. O beijo foi longo e faminto. Cada toque. Cada respirar.
A noite foi agradável. Ela se entregou. Amou-o densamente e inconseqüentemente, imaginava-o… amava e era amada por ele.
O tempo se arrastou e três meses depois estavam sufocados pela distância repentina.
Bruno ficou tão confuso, sequer conseguia definir seus sentimentos.
Ana sofria em silêncio. Sem receio ela telefonou, não poderia deixar de se declarar naquela noite. Sentia-se usada. Sentia-se um objeto. Encontraram-se no começo da noite. Foram ao cinema. Terminaram a noite em um Bistrot.
– Bruno preciso te falar uma coisa. Um segredo – sorriu.
– O que foi?
– Eu te amo!
Ele permaneceu em silêncio por alguns minutos.
– Estou muito confuso. Nunca senti por ninguém o que estou sentindo por você. Mas não podemos continuar esse envolvimento. Sou casado.
– Eu sei disso! Você não está feliz. Seus olhos denunciam a sua tristeza.
– Eu não posso, vamos ser amigos.
De repente lágrimas surgiram nos olhos de ambos…
– Você prefere fugir? Eu te amo. Te amei desde o primeiro instante, te quero demais. Você deve achar estranho, afinal tivemos somente uma noite, mas para mim foi tudo… nos dê essa chance.
Depois daquele encontro, cada qual seguiu seu caminho. Caminhos tão diferentes. Com curvas e encruzilhadas inesperadas.
Ana não teve notícias de Bruno por muitos meses. Sofria em silêncio a falta daquele amor estúpido… era assim que ela o classificava. Tudo o que restou foram somente palavras perdidas, esquecida por ele.
O tempo passou.
Passou…
Verão…
Inverno…
Outono…
Todos os anos ao aproximar-se a primavera, ele vinha voltando e, de repente, estavam novamente envolvidos em um mundo oculto… Inexplicável para ambos.
Ana decidiu que precisava mudar aquela rotina, nada saia como planejara ainda quando tudo começou.
E nesta longa caminhada, foram surgindo os imprevistos do destino e da vida.
Ana se envolveu em diferentes relacionamentos, e, por durante algum tempo conseguira enganar os sentimentos. Percebia que estava novamente amando. Remotas ilusões, pois a cada termino, Bruno estava de volta, de volta somente em seus sentimentos
Eu sou dele eternamente! – Era um ruído de espera. Espera interminável. Espera…
Espera…
Mesmo assim aquele louco amor insistia em incomodá-la nas noites que se estendiam. Nas madrugadas… manhãs… e tardes!
De repente a felicidade estava muito próxima. Um sonho bom que se realizaria. O telefone tocou. Era Bruno!
Logo se aproximou novamente, para variar era setembro.
Começou tudo de novo.
As palavras.
Os encontros.
Os gestos ocultos.
A paixão outra vez, atormentava o coração de Ana, que enchia-se de esperanças dia-a-dia.
Mas, novamente o destino foi injusto com ela, uma vez que Bruno somente a informou sobre um novo relacionamento.
– Ana, ela é… nem tenho palavras. Estou de fato apaixonado. Aconteceu…
– Compreendo.
– E tem mais…
– O que?
-… Ela quer que eu vá com ela para a Europa. Eu a amo. Amo muito. Tenho certeza!
– Há algum tempo atrás, você falou que sentia por mim algo inexplicável!
– Ana, sei do seu amor por mim. Mas não te amo. Te vejo somente como uma amiga.
Ana perdeu os sonhos… a esperança terminou naquele instante. Perdeu a vontade de fazer qualquer coisa.
Mas a realidade precisava ser aceita naquele instante. Afinal, como poderia amar um alguém assim.
Era um pensamento perdido no espaço de anos que corriam um após o outro.
Conheceu Redley, homem polido e íntegro, supria aquela imensa vontade de amar, que a consumia. Entregou-se inteiramente àquele homem que a fez sentir-se mulher.
Mas o vazio da falta de ter Bruno perdurava tirando-lhe o sossego. Depois da cama, se corroia na infelicidade de se entregar a alguém… de usar alguém.
Por meses esqueceu-se de Bruno, vivia toda a felicidade desejada ao lado de sua nova emoção.
Contudo quando deparava com a realidade, pegava-se tentando esquecer Bruno, porém sem esquecê-lo, era um amor sem cura. Um amor que era loucura. Feria os sentimentos. Uma dor sem solução, que machuca por dentro, gerando lágrimas, mesmo sem querer.
Rompeu com ele…
Outra primavera, outras flores. Novamente Bruno… lá vinha Bruno desatinando todo silêncio.
Fazendo-a ter certeza que o amor ainda existia na profunda memória.
Enfim, estavam envolvidos em abraços apertados, beijos envolventes.
– Meu mundo não mudou… eu te amo.
Bruno mantinha em silêncio. O mesmo silêncio que manteve estes anos todos. Porém, os atos evidenciavam agora aquele amor sufocado.
A explosão foi total.
O sonho e fantasia se tornaram uma realidade e o medo de acordar era um infindável tormento na vida de Ana. Queria tanto ser amada, mas tinha medo desse amor. A realidade é que a enorme necessidade de tê-lo durante esses anos a feriu, lhe causando este trauma. Fugiu durante tanto tempo da solidão e agora que tinha em seus braços o grande amor de sua vida… sofria em silêncio. Consumia-se em medo.
Mas o amor era uma evidência. Uma forte evidência.
Bruno era de fato tudo que sonhara ter. Atencioso, carinhoso, esplendido! Era o seu amor, o homem de sua vida.
Ana vivia um sonho bom que não queria jamais acordar. Mesmo com o temor que Bruno às vezes fazia surgir.
Certo dia, ele chegou triste, abatido, apagado.
– Amor, o que foi? – perguntou docemente.
Bruno manteve-se em silêncio, deitou-se, enrolou num lençol e ficou quieto, como se quisesse fugir sem ter coragem.
– Fala o que está acontecendo. Você não está feliz. Não me quer mais. Pode falar. Eu já esperava isso.
– Ana, o problema não é você, sou eu… eu não sei o que quero da minha vida. Você é tudo que eu queria, hoje sei disso, e você também. Mas sinto-me triste, amargurado. Quero vir definitivo morar com você – fez uma pausa. – Mas tenho medo.
– Medo de quê?!
– Medo de falhar, me sinto perdido, com receio do meu comportamento. Acho que tenho algum distúrbio.
Ana encontrou-se com um nó na garganta. Foi dominada pelo arrependimento. – Novamente me entreguei a ele… – pensou. Uma pessoa que sequer sabe o que almeja para a própria vida – completou o pensamento, sentindo a lástima da desilusão. Começou a perder o equilíbrio. Perdeu a vontade de viver. Nas noites tão remotas estavam presentes em corpo, mas o pensamento perdido em mundos diferentes.
“Como pode? esperei tanto por este homem, foram anos e agora tudo se tornou um caos.” – se debatia com a própria vida. Debatia-se com a incapacidade de fazê-lo feliz.
Bruno a cada dia estava distante. A cada dia agia de maneira inconstante. No mesmo momento que sentia falta, sentia desprezo. Experimentava desejo e pavor. Queria abraçá-la fortemente, protege-la e no momento seguinte ansiava fugir.
Aquele lar foi invadido por amargura, vivia a meia luz. Um local sóbrio que transmitia o desgosto de ambos.
Novamente ele se foi. Às vezes mandava mensagens apaixonadas e telefonava insistentemente. Ela tentava ignorar, mas o amor sentido vencia.
Porém nesta vida o que real prevalece e joga toda mentira por terra. Ana descobriu a verdade. Bruno usou máscara todo o tempo. Afinal nunca foi capaz de assumir sua vida, como poderia ser sincero em qualquer situação.
“Homem não presta são todos iguais. Só mudam de nome e endereço.” Uma amiga lhe disse: ‘Tenha amor próprio. “Quando você se ama, não permite que alguém lhe cause dor e sofrimento”.
Passaram-se novamente alguns meses, e Bruno voltou… voltou tão de repente, tão carinhoso e atencioso… tudo o que Ana queria, ele se tornou. Viviam dias e noites apaixonantes.
Outro disfarce, outra desilusão.
A desilusão foi inevitável. Uma dor insuportável. Aquele amor que a perseguiu durante meses de ausência, fez-se presente e agora simplesmente fazia experimentar de novo o gosto amargo da decepção. A dor da traição. A dor de sentir-se enganada.
Bruno vivia uma relação dupla. Porém não teve a capacidade de manter-se firme diante de sua escolha.
E Ana encontrava-se no dilema de aceita-lo de volta. “Meu Deus, que sina, por quê? Conviver com a insegurança enlouquece, atormenta. Consome toda a paz. “
Ana se permitiu continuar vivendo aquele dilema, pois era assim que classificava aquele sentimento – um dilema – depois de todo o ocorrido.
Bruno, vez e outra estava num canto apagado como se a infelicidade fosse a eterna companheira.
“Ele pensa que vou deixar barato tudo que me fez…” – tudo isso despertou nela o sentimento de vingança. Continuou com ele, mas todos os dias se deitava com alguém para vingar-se.
Pois este era o maior medo de Bruno, ser traído.
Os mistérios desta vida, ninguém foi capaz de decifrar. O nascer e o morrer. O ser humano a todo instante tem que fazer escolhas e talvez escolhas que mudam para sempre a vida. Ana novamente estava diante de uma escolha. Se entregar àquele que mentiu o tempo todo, esquecer o sentimento de vingança… ou seguir sua vida e encontrar um novo amor. Bastava ficar alerta aos sinais…

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