Vitrines Da Vida

A cada novo ato

Amanheceu sem medo, com vontade se se entregar, se declarar e amá-lo como há tempos não fazia, pois a rotina às vezes induzia o casal a ficar dias até sem dar um leve beijo.

A distância se tornara excessiva, mesmo dormindo na mesma cama todas as noites.

Decidiu ter um dia distinto.

Levantou mais cedo, aprontou o café da manhã, e o despertou na cama. Fizeram juntos o desjejum.

A seguir se aproximou e sentiu sua fragrância, sua tez, aquele corpo que lhe fazia enlouquecer, que lhe causava uma fervura no peito, uma fisgada no coração. Tocar-lhe era como se tivesse com muita sede e tomasse água fresca, direto da fonte. Ah, o amava demais. Sem limite.

As bocas se encontraram com uma precisão acentuada, mais de meia hora de beijos, sussurros, múrmuros, palavras de amor, tantos carinhos há tempos esquecidos, viajou por todo o corpo do amado esposo sem modéstia, sem receio, tudo fora deixado de lado, no entanto o desejo não.

A cada toque uma vibração diferente era despontada. Um fogo que esbraseava demais.

A cada carícia.

A cada eu te amo.

A chama da paixão se misturou ao amor e ao desejo. Letra, melodia e interpretação perfeita.

Beijou-lhe os pés, foi subindo pelas suas pernas, andou por caminhos formosos de passar, foi adentrada, foi amada como devia. Um ato que desfez o nó que tinha na garganta, a dor que tinha na alma.

Um ato que anulou a solidão, que fez seu respirar mais imaculado.

Um ato que reacendeu a chama daquele amor. A cada novo ato o amor se renovava.

Casados há mais de cinco anos, muitas coisas caíram na rotina, o sentimento também ficara comprometido, o costume é um inimigo íntimo no casamento.

O casal deixa, sem perceber, de lado coisas importantes da relação.

Os beijos.

Os abraços.

Os carinhos mais ousados.

O desejo do começo de tudo, quando ainda se conheciam e queimavam feito loucos de vontade de tocar um ao outro.

O fazer amor, sem pudor, com fugacidade, com o mesmo anseio do princípio.

Agora, ela estava encontrando o caminho.

Após esse dia seu relacionamento se tornara primoroso demais. Dotado de atenção e amor necessários a sobrevivência de um sentimento conjugal.

Não haveria mais noites perdidas, em que simplesmente viravam cada um para o canto e dormiam vazios.

Não haveria mais a contenção da vontade sexual, perderiam as ressalvas, se enxergariam como homem e mulher, sem respeito, liberando as fantasias sem vergonha, sem pudor.

Todos os dias se confessariam – eu te amo – reacendendo, relembrando, reafirmando o amor sentido, por ele, por ela.

Não haveria hora nem lugar.

E ciúme seria tão-somente um coadjuvante para completar o enredo desse romance.

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