Crimes Passionais

Seus pecados

Eles viviam juntos há seis anos. Conheceram-se numa dessas salas de “pegação gay” na internet, onda do momento, pois atualmente existem diversos sites e redes sociais com este objetivo. Funciona assim, os usuários se cadastram e ali passam a buscar o par perfeito, postam fotos e vídeos sensuais ou sexuais, a maioria das vezes e a maioria dos usuários só buscam sexo casual, quase todos criam um perfil “fake” até terem certeza e segurança com quem flertam.
Porém com eles foi tudo diferente, após algumas conversas no chat, se encontraram em um local discreto, um bar específico, no primeiro momento não houve palavra alguma, apenas um beijo ousado da parte de Guilherme, o mais novo da relação com vinte e dois anos, o parceiro Caio, já era mais vivido e estava em busca de algo sério, com vinte e sete anos, cansara de tantas aventuras, sexo e nada mais. O mundo gay é movido a putaria.
A paixão foi mútua e dilacerante. Logo estavam intensamente envolvidos. Rapazes discretos e dotados de beleza não tinham atritos com as famílias nem com a sociedade quanto a opção sexual.
Caio se apaixonou sem reservas. Encontrara no amante a pessoa perfeita, um jovem sério, trabalhador, bom de cama e inteligente e no estilo que desejara aparentemente e fisicamente, sendo assim não tinha porque não dividir o mesmo teto com seu novo amor, foram morar num amplo apartamento na área nobre da cidade.
Escolheram cada detalhe da nova casa. E passaram a viver um para o outro.
O único pedido que Caio fizera – sem traições.
Entretanto, Guilherme era fogo puro, não sabia se conter, não privava em se realizar somente com o parceiro, e todo dia arrumava uma experiência arriscada, diferente.
Nos banheiros de alguns locais, estimulava e era estimulado, ali logo chegava ao orgasmo sem pudor algum, com quem nem conhecia, com quem nem perguntava o nome, com um, dois, três, até não ter mais tempo. Ia para casa, sem graça, com medo de deixar transparecer o seu pecado.
Ao abrir a porta se deparava com Caio a sua espera, sem graça o beijava, o abraçava e em poucos minutos estavam na cama, ele se esforçava para conseguir ir até o fim, com o corpo sujo de outras bocas, outros toques, pois sua consciência pesava e as lágrimas surgiam disfarçadamente.
No dia seguinte, não resistia e de novo quando percebia estava em algum banheiro em busca de uma bunda ou um pau diferente.
Caio o seguiu e o pegou com a boca na botija. Não teve como negar. O jeito foi dizer toda verdade e se livrar do peso que carregava. Foi um caos, uma peça teatral trágica. No final o perdão e a promessa que não mais faria isso. Seria fiel.
Foi surpreendido outra vez e do mesmo modo foi perdoado.
Mais uma vez e novamente o perdão.
E a cada perdão Caio perdia a autoestima, sentia uma dor intensa e aguda. Uma vontade de sair correndo, simplesmente não conseguia fugir porque amava-o demais.
Guilherme não se aquietava, na internet se desfrutava na webcam se masturbando para outros rapazes, na hora banho sozinho se realizava. O tempo todo estava numa busca inexplicável de sexo.
Em filmes pornôs se viciava. Tornou-se inconsequente demais. Caio sempre descobria tudo, mesmo sem querer. Sucessivamente achava uma pista da traição do seu amor.
Certa noite não se conteve e resolveu acabar com aquele sofrimento.
__ Acabou. Junte suas coisas e vá embora.
E quando perceberam já estavam rolando no chão, se agredindo, feito loucos.
Os rostos já estavam cheios de hematomas.
Guilherme o pegou pelo pescoço e lhe deu “uma gravata”, ele relutava mais faltava forças para sair daquele fúnebre abraço.
Foi perdendo o ar…
Foi perdendo as forças…
Foi perdendo aos poucos sua vida.
Poucos minutos depois cedeu nos braços do seu amor, sem vida, sem amor próprio.
Ao cair na real Guilherme enlouqueceu.
__ Pelo amor de Deus, o que eu fiz? – bradava para o nada. Correu ao quarto pegou sua mochila, juntou alguma peças de roupas, foi ai banheiro lavou o rosto, respirou fundo, na cozinha tomou um copo d’água, saiu correndo da cena do crime, sem ao menos olhar para trás.
Deparou-se com dois policiais na portaria, a vizinhança ao ouvir o barulho, acionou a polícia.
__ Foi no apartamento dele – disse o porteiro, apontando-o.
Guilherme foi detido em flagrante, afinal sempre fora pego em flagrante, todos seus erros sempre foram descobertos. Suas mentiras. Suas trapaças. Sua conflitante vida.
Chegara a hora de pagar pelos seus erros.
 

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