As Desquitadas

Verdade da vida

Mesmo sem amá-lo, casou-se.

Sem receio, sem entusiasmo, apenas desejo e o medo supriam seu sentimento.

Viver um casamento amando outro alguém é algo que não tem como dar certo, de forma alguma.

A princípio tudo se mostrava fácil demais.

Recebia o marido sem hostilidade e se envolvia com ele sem dificuldade.

O tempo passou e lhe trouxe a saudade do seu único amor, o homem que não a quis, o homem que lhe tirou a paz, que fez seus dias tornarem-se, dias cinzas.

A saudade foi a verdade da vida. Da sua vida.

Passou a ter pelo esposo receios que antes não tinha. O beijo tinha um sabor amargo. Os toques lhe davam arrepios, tudo lhe fazia tão mal. Tão usada, tão infeliz.

Chegara a hora do fim.

Ele foi pego de surpresa, pois não tinha motivo algum para se separar, amava-a e estava satisfeito em todos os sentidos.

Naquela noite, ao entrar em casa, se deparou com as malas no meio da sala, as malas dela.

__ Vou embora – anunciou friamente, evitando qualquer olhar.

Meia hora de conversa.

Meia hora tentando entender – o porquê do final.

Foram lágrimas e promessas, mas não havia o que mudar, ela amava outro, nunca deixou de amá-lo desde que o conheceu – há tantos anos.

Até tentou encontrar um caminho menos árduo, um jeito de ser feliz, entretanto nada disso fora possível, o resultado de suas tentativas é uma infelicidade desmedida.

Após três meses se reencontraram diante do juiz para assinar o divórcio.

Ele tentou reconquistá-la, entende-la, porém enxergou a realidade e aceitou o fim, mesmo sem saber o real motivo dessa consequência.

Agora, sozinha, desquitada, calada escutando uma canção num ambiente do apart-hotel que se encontra, continua dilacerada pela saudade, há dias telefona para seu antigo amor e não é atendida, sequer ele retorna a ligação. Contêm a vontade de ir atrás dele e implorar seu amor. Chegaria de surpresa e o convidaria para um drinque. Falaria do seu sentimento. Do seu amor que ultrapassara o tempo a impedindo de ser feliz. Tocaria discretamente, carinhosamente sua mão em cima da mesa, fitaria seus olhos frios, sua boca atraente. Usaria a audácia que nunca usou.

É esse seu plano…

Fechou os olhos para qualquer novo amor.

Sua decisão já fora tomada – irá esperar por ele, pelo tempo que for preciso, sem pressa, sem medo, com dor na alma, com sofrimento.

Saudade intensa de um amor que não passou.

E não passará.

 

 

 

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