As Desquitadas

A vida é mesmo assim

Casou-se há dezessete anos, numa época diferente dos dias atuais, pois as pessoas não eram tão vulneráveis. Não existia exacerbadamente a onda do ficar.

De namoro foram dois anos, de noivado mais um, inteirando vinte anos de convivência, no entanto muitas vezes dormimos com o inimigo, sem saber.

A relação como qualquer outra no começo preenchia o sentimento do casal. Quantas noites de amor. Quantos beijos apaixonados. Quantos momentos inesquecíveis.

A chegada do primeiro filho…

Quantas realizações e conquistas. Sonhos que se realizavam. Compra do imóvel, do carro, de coisas simples do dia-a-dia. O segundo filho – uma menina.

O tempo pode ser seu maior inimigo quando se trata de sentimento e de desejo. O tempo corrói, desgasta, destrói, cessa da noite para o dia, o que antes fazia tão bem.

E foi o ocorrido no casamento de Laura, agora com trinta e oito, com o olhar dolorido, na maca de um hospital, ainda tentando acreditar no que lhe ocorrera.

“Fiquei destruída quando descobri que meu ex-marido era o responsável.”

“Nós éramos uma família, tivemos dois filhos.”

Fora estuprada por um homem e a ordem do mandante, era – estuprar e matar.

Afinal, desde a separação ocorrida há alguns meses, sofria agressões e perseguições. Ele não aceitara o fim, mesmo sendo o culpado, mesmo sabendo que passavam dias sem se tocarem, sem qualquer contato, sem um beijo apenas. Mesmo sabendo que se realizava sexualmente de outras formas, pois o desejo pela esposa acabara totalmente – tudo isso agravado por uma crise financeira, pois Laura que mantinha as despesas, ficara desempregada. A falta de dinheiro agravou mais o desgaste do casamento. Depois de destruir o sentimento dela não aceitara o fim. Não tolerava imaginá-la em outros braços.

Laura não permitiu com que a separação esfriasse seus sonhos, fazia tudo do mesmo jeito e ao contrário do que muitos pensavam, ela não sofreu, sentira-se livre como há tempos não se sentia. Separar foi como se lhe fosse tirado um peso das costas, pois vivia com a autoestima baixa, frustrada emocionalmente e sexualmente. Os filhos já entraram na adolescência, o menino ficou com ela e menina decidira morar com a avó materna. Ela queria, necessitava é seguir em frente, afinal nunca foi de ficar presa remoendo as derrotas, a vida é mesmo assim, todo dia surge um obstáculo e uma nova chance para ser feliz.

Deveria na época das agressões e perseguições ter procurado à polícia, mas atendendo um pedido da ex-sogra, deixou para lá.

Foram tantos atos de desiquilíbrio.

Ele tentou colocar fogo na casa, queimou o carro dela. Fazia tudo para chamar sua atenção, mas ela estava cuidando de si mesma. Mesmo sendo vítima dele de todas as formas, o ex-marido conseguiu por um tempo colocar os dois filhos contra ela ao inventar que o traía e ficava com um e outro.

Na noite do crime, Laura foi jantar na casa da mãe, ao voltar para sua casa, atendeu um jovem alegando que precisava de socorro.

Ele invadiu a casa, bateu muito nela e a violentou. Levara murros e chutes. Levara pancadas na cabeça, desmaiou.

Acordou algum tempo depois e pediu ajuda.

Laura pensou em desistir de fazer a denúncia, pois não conhecia o agressor, mas ela foi em frente e toda a verdade veio à tona.

 “Voltei para casa só para tirar as coisas. Fiquei com medo do que pudesse ainda acontecer.”,

Desde a agressão, Laura está sem residência fixa, morando, se escondendo na casa de parentes e amigos.

Toma medicamentos para dormir.

E afirma que tentará recomeçar.

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