As Belo-horizontinas

A costureira de Venda Nova

Venda Nova não é apenas um bairro, tornou-se uma região importante de Belo Horizonte, uma cidade dentro da cidade.
Cercada por diversos bairros, com um comércio expressivo. Suprida de transporte público com a estação do metrô e a estação de ônibus.
Nos últimos anos a região se destacou ainda mais e foi alvo de uma supervalorização.
Apesar do progresso o bairro ainda têm alguns moradores antigos e conservadores, Mirta, ou dona Mirta, como é conhecida por todos, reside ali, no começo de uma importante avenida da região, sua casa antiga, porém bem cuidada logo dá indícios de que ali tem muita história para contar.
A casa pertenceu ao seu bisavô.
As reuniões de família nos tradicionais domingos marcaram tanto a infância, adolescência e juventude dessa mulher.
Mas o vento soprou e hoje restaram somente lembranças tatuadas em seu coração.
Quantos momentos bons.
Pensava no passado.
A campainha interrompeu seus pensamentos.
__ Olá, dona Mirta.
Cumprimentou a visitante, ao vê-la na porta indo em direção ao portão, o caminhar lento, pudera, já com oitenta anos, exceto a lentidão goza de uma boa saúde.
__ Trouxe um tecido para a senhora fazer um vestido para mim.
__ Entre, minha filha. Vou coar um café.
__ Não precisa.
Ela manteve a tradição de família e aprendeu com a mãe a arte da costura. Sua mãe aprendera com a avó e assim acontecera nas últimas gerações dessa família.
Durante toda a vida se se tornara uma excelente costureira.
Fazia desde reparos até a alta-costura.
Em certas fases não tinha tempo para nada, pois nos finais de semana tinha que entregar dezenas de serviços, no entanto criara bem sua prole de três filhos que residem no exterior.
Agora tudo cessou.
Com avanço da tecnologia e o crescimento exacerbado da indústria têxtil, as pessoas preferem comprar as roupas prontas, nas grandes lojas populares, principalmente.
Dona Mirta cultivou uma grande clientela e nunca lhe faltara serviço, devido a idade até prefere que essa timidez da procura seja mantida, assim consegue atender quem a procura.
Perdera o marido há dois anos. Numa manhã nublada ele não acordou mais. Ela levantou-se preparou o café para levar na cama, como fizera nos sessenta anos que vivera em companhia do seu único amor, ao tentar acordá-lo percebera que a deixara para trás. Sentou-se ao seu lado, pegou sua mão fria.
Deu-lhe o último beijo, na testa.
E chorou.
“ Vá em paz, meu eterno amor.”
A recordação dos momentos que vivera ao lado dele a faz tão feliz, tão plena. Vivera completa demais como companheira daquele homem. Ele nunca a magoou.
Foi amada durante toda a vida.
Após o café e a conversa sobre a encomenda, dona Mirta se despediu da cliente e a seguir começara seu trabalho.
Com as medidas em mãos preparou o tecido. No armário de madeira antigo procurou com calma os acessórios que iria utilizar.
Linhas.
Botões.
Alfinetes.
Dirigiu-se a antiga máquina de costura.
Limpou-a com uma flanela.
E começou sua tarefa com perfeição.

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