Vitrines Da Vida

Um conto de natal – com Glauber Lopes

Aquela era a manhã mais esperada do ano. As famílias começavam a chegar de vários lugares e os preparativos para a noite de Natal eram comuns em todos os cantos da terra.
Clara vinha de muito longe, mas como era tradição reunir toda a família, viajar para aquele lugar, era um presente… Uma casa em meio a neve, com lareira para pendurar as meias de natal, uma imensa árvore que piscava luzes coloridas, a casa toda enfeitada com luzes.
E a vovó feliz recebendo a família. O reencontro com os primos, tios e avós era sempre motivo de muita alegria. Mas ela tinha uma grande preocupação, será que o presente de Natal chegaria em um lugar tão longe assim? Uma coisa era certa o bom velhinho jamais deixaria de encontrar aquela imensa casa cheia de luzes e enfeites natalinos. Mas para garantir a entrega ela pediu ao seu pai que deixasse a chaminé bem limpinha e que pendurasse bem no alto da chaminé uma plaquinha com os dizeres: “ É por aqui senhor Noel”… Assim ela tinha certeza que os presentes que pediu seriam entregues.
Feito isso resolveu andar um pouco para conhecer a vizinhança. Todas as casas estavam bem enfeitadas e as famílias se reuniam esperando com alegria a chegada do momento mais esperado do ano. Distraída andou tanto que logo percebeu que estava longe da casa de seus avós. E bem no finzinho da rua, enxergou uma casinha humilde, uma senhoria bem debilitada apanhava lenhas para levar para dentro de casa, ali não se via as luzes de natal, apenas um enfeite de uma vela na porta. A senhora estava tão debilitada que Clarinha resolveu se aproximar e ajudar. Apanhou as lenhas e levou para dentro de casa. Olhou bem todos os cantos e viu que luxo era algo que não existia ali, no fogão havia uma panelinha com uma sopa que começava a ferver, duas crianças com rostinho bem tristonho tentavam se esquentar a beira da lareira, com roupas velhas e rasgadas e um cobertor que as fazia mais tremer de frio do que as protegia. Naquele momento ela pensou em quanta coisa havia pedido ao Noel, pensou em quanto brinquedo já tinha em seu quarto e que ainda havia pedido mais, pensou em quantas roupas quentinhas e confortáveis tinha em seu guarda roupa e que o Noel estava prestes a lhe dar mais. Pensou em toda alegria que sua família trazia e quão farta seria a noite de natal. Saiu correndo de volta para casa. Começou a fazer várias placas em setinhas que diziam – siga em frente e compartilhe o espírito de natal.
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Aquela menina que nunca tinha se deparado com essa realidade se sentiu comovida.
Como poderia passar uma noite feliz, sabendo daquelas crianças e daquela humilde senhora. Ela tinha tanto e eles nada.
E a noite chegou.
Todo ritual foi seguido. Papai Noel entrou pela chaminé e atendeu todos os seus pedidos. A felicidade estava estampada nos rostos de seus familiares, a troca de presentes. Os abraços. Os sorrisos. A ceia farta.
Alguns minutos depois Clara saiu e se dirigiu aquele lugar humilde, com um saco vermelho grande, cheio e pesado. Fazia um esforço desmedido para arrasta-lo, mas seguiu em frente, iria fazer aquela família feliz, nem que fosse por essa noite.
Ao avistar a casa, logo estranhou, estava movimentada, fez as setinhas somente por fazer, mas o espírito de natal chamara atenção das pessoas que foram para aquele local. Não esperava tanto.
Ao entrar na porta da humilde residência, o cenário agora era outro, iluminado por centenas de luzes, tudo foi improvisado e em uma mesa também improvisada a fartura se fez presente. Coisas que aquela família nunca tinha comido, apenas tinham visto nos encartes de supermercados e na televisão velha que enfeitava um móvel antigo no canto da pequena sala.
Clara chegou abraçou a todos, distribuiu os presentes.
E uma coisa que jamais esquecerá é o sorriso e olhar de gratidão nos rostos daquelas pessoas.
Isso não tem preço.
Olhe ao redor.

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