Vitrines Da Vida

Um cheiro de despedida

Viver é bem mais complexo do que se imagina.
Quanto vem a fase adulta, logo a gente sente saudade da infância, tempo bom, tempo em que a vida é um doce.
A tristeza é passageira.
E tantos sentimentos abstratos não nos fazem sofrer.
Saudade, amor.
Desejo, paixão.
Solidão e tristeza.
Cristiane se tornou uma mulher interessante, bem sucedida profissionalmente, todavia no amor travou as dores da vida.
Tudo começara no final da infância.
Sofrera em tão alto grau. Amores platônicos, desses que deixa um leve acalanto no peito.
Foi na balada, numa noite de inverno, inesperadamente, que conheceu seu tormento.
No começo ele era o que queria ter. Homem inteligente, bonito, fazia tudo com requinte.
Estrearam uma envolvente história de amor, cheia de sonhos e fantasias. Cheia de vontades e concretizações. O mundo era somente eles.
A paixão que sentiam se misturava com amor. Contrato perfeito.
Com o tempo tudo foi detendo, assim como repetir a mesma refeição todos os dias.
E o amor começara a acabar.
Isso lhes gerou um desconforto sem dimensão. Dormiam juntos e rolavam na cama, para vencer o vazio ocasionado pela companhia um do outro.
Tudo se tornara imensamente delicado.
Tinham vontades desiguais e a única vontade igual é que queriam evaporar, assim quem sabe sairiam sem causar mágoas, algo impossível para o fim de um amor.
Alguém sempre perde.
Alguém sempre sai ferido.
Alguém sempre sentirá lesado, enganado, mal amado, sem braços.
O fim do amor não é uma situação neutra, haverá sempre o cheiro da despedida no ar. Um cheiro amargo, um cheiro impossível de se esquecer.
Noite sem estrelas e sem luar.
Cristiane foi quem sentiu tudo isso. Não o amava mais, porém não queria ficar sem ele. Não queria mais ser tocada por aquelas mãos, mas não sabia, não podia, não se atreveria a resistir à sensação causada por elas.
Não queria mais aquele beijo, entretanto não conseguia fugir deles. Perdia-se nos beijos bebidos daquela boca.
Ele também não a queria.
Não se queriam mais, estavam saturados, desgastados pela rotina do viver.
Iam e vinham.
Amor e rejeição se misturavam imperfeitamente, loucamente os deixando sem saber o que fazer nas noites tão vazias de silêncio.
Nas noites frias.
Nas noites sem ele.
Sem ela.
Assim iam vivendo como loucos, se amando mesmo sem querer, mesmo sem saber.

 

1 COMENTÁRIOS

  1. Magnífico, como era de se esperar!!
    Magnífico.
    Tal qual uma biografia de casais do cotidiano que nos cerca, um amor que se exaure, e mesmo sendo exaustivo e obssessivo para ambos, não conseguem viver juntos mas, tampouco, separados.

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