Vitrines Da Vida

Um bolero perfeito

Juntou todas as coisas…
Com pressa para sair logo dali.
Antes que seu coração voltasse atrás. Há meses quisera tomar esta decisão, para sair do sufoco e da solidão de um casamento falido sexualmente.
Não podia negar que o fogo do começo se apagava feito as chamas de lareira ao findar do inverno.
Conheceram na flor da idade, ambos com vinte anos. Após muitos encontros, muitas carícias ousadas, após a recepção de casamento de um familiar, Elisa se entregou. Foi despida como vira nas antigas novelas. Tudo foi tão lírico. Inesquecível momento de paixão.
Despida, foi tocada em cada centímetro. Aquelas mágicas mãos a lapidava igual se lapida um diamante. Os seios foram sugados com tanta vontade. Elisa perdia o ar com cada sensação inédita.
Um bolero perfeito.
Não precisava mais sonhar, pois seus sonhos tornaram-se realidade.
Acabou-se a procura…
Jovem dona de uma beleza fundamental. Olhos misteriosos, face bem desenhada, tudo combinava muito bem. A boca, a pele, o corpo torneado. Quase um metro e oitenta de perfeição.
Gustavo não ficava para trás. Não tinha como não olhar quando ele passava. Tinha um jeito de andar tão sensual. Corpo bem distribuído. Braços fortes, pernas grossas. Olhos de gato siamês.
Entregou-se também com vontade e paixão.
As noites foram tórridas demais.
Viajaram por todos os lugares que tiveram direito…
No corpo dele.
No corpo dela.
Da cabeça aos pés.
Um turismo perfeito.
Após três anos tudo foi cessando. È como se num dia de sol intenso viesse uma chuva demorada, daquelas que derrubam a temperatura.
Fora assim que a solidão se manifestou.
A solidão machuca.
A solidão faz latejar o peito.
A solidão desmancha os castelos de areia.
A solidão leva-nos a traição, sem querer, quando se percebe, surge o encanto por alguém sem importância. O desejo de ser tocada e sentir a mesma explosão que sentiu no começo da relação, agora falida.
“Só diz que sexo não é importante no casamento quem não sente e não sabe dar prazer” – Elisa carregava esta real convicção.
Tentou tudo que podia.
Criou as mais loucas fantasias.
Quantas noites mal dormidas.
Porém quando o desejo acaba nada muda a situação.
Nenhum amor é eterno…
Nenhum desejo é para sempre.
E, logo agora, chegara a hora da despedida.
Seguiriam mundo afora.
Com as vidas despedaçadas de insatisfação.
O futuro será o juiz.

1 COMENTÁRIOS

  1. Muito bom… quando a luz se apaga e as cortinas se fecham, não se tem outra alternativa a não ser cada um seguir seu caminho, o que mais há de se fazer?
    Abraços

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