Vitrines Da Vida

Último dia de inverno

A decisão estava tomada, depois de muito tempo, depois de muito sofrimento, não podia mais suportar o vazio deixado por ele. Nunca sentira tão sozinha durante sua vida quanto tem sentido nos últimos meses ao lado dele, pensando nele.
Foram anos de amor.
E todos os dias, no primeiro e segundo ano se amavam com tanto desejo, era um casal perfeito, feliz…
De repente tudo foi esfriando, tipo café dormido, o gosto estava modificado. Choco.
Ela, por tantas e tantas vezes, tentou entende-lo, argumentou, brigou e questionou, nas primeiras horas após as exaustivas brigas, tudo parecia voltar ao normal, mas a seguir a frialdade de sentimentos, de beijos, de abraços, de carinhos e carícias desapareciam, naufragado em alto mar. Chegara a hora de mudar o seu caminho nessa vida.
Toda tentativa de volta gerava unicamente dor.
Simplesmente lamento…
Tormentos e nada mais.
Ela se entregou a tristeza.
Ele passou a buscar em outras camas uma maneira de se realizar, mera ilusão, pois no final de tudo sentia-se usado. Oco.
Agora, no último dia de inverno, ela não vai mais olhar para trás.
Não haverá diálogo.
Nada de conversa fiada para no final acabarem na cama, algo que deveria ser naturalmente, constantemente, sem apelos. Atitude normal para quem se ama.
Antes dele chegar do serviço, iria sair, já arrumou a mala, na realidade decidiu levar somente algumas roupas, não quis nada.
Nada de retratos.
Nem o cachorro.
Não queria nenhuma lembrança do que viveu, guardaria no seu coração somente os momentos bons, assim sofreria menos.
Antes de sair, percorreu pela última vez pelo apartamento nebuloso, sem cor, sem vida, sem amor…
Conteve as lágrimas.
Conteve a vontade de desfazer a mala.
Saiu depressa sem rumo. Pegou um táxi e deu o endereço para onde ia, um apart-hotel na zona sul, pegou o celular tirou o chip, quebrou em diversos pedaços e o jogou pela janela.
Isolaria-se por alguns dias, curtiria o luto do fim do amor. Queria ficar com si mesma para avaliar melhor suas ações durante todo seu viver.
Nas primeiras horas sentiu seu mundo cair, se sentiu num buraco, num abismo profundo, mas na próxima estação sobreviverá, é sempre desse jeito.
Começará de novo, com tudo novo, até um novo amor desses que nos tira o ar e nos faz ter motivos para sorrir, para viver.

 

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