Vitrines Da Vida

Quem sabe o tempo…

Adilson viera da roça, como ele mesmo diz, uma pequena cidade no interior de Minas Gerais, onde as pessoas carregavam o sotaque bem marcado.

Chegar à capital lhe despertou tantos sonhos, tantas vontades, até se sentira importante, na ocasião que desembarcara na rodoviária.

Foi morar na casa dos tios…

Seus planos era arrumar um emprego simples, poderia ser até de servente de pedreiro, e estudar no turno da noite.

Homem bonito. Pele clara, corpo bem definido. Olhos castanhos, quase mel, cabelo bem cuidado. Logo começara a chamar a atenção.

Em um almoço, de família, na casa da matriarca, foi que seus sonhos começaram a se desfazerem.

Conhecera o primo, que ao fita-lo percebeu algo diferente.

Diego nunca fora cobrado em relação a sua sexualidade, estava “na cara’, era gay, por mais que tentasse ser discreto, no entanto a família preferia fingir que nada percebiam. Ao cumprimentar Adilson sentiu um forte desejo.

Deu um jeito de se aproximar para saber de seus gostos, de suas preferências, principalmente na hora do sexo. Tudo com cautela.

O interiorano na verdade era até puro, com dezoito anos ainda não tivera nenhuma relação sexual, mas de uma coisa tinha certeza, curtia mulheres.

Na ingenuidade talvez nem percebera as intenções do primo ao se aproximar – ou simplesmente fora tocado pela vontade do pecado.

Toda semana o mesmo ritual.

O almoço.

A troca de olhares.

O respirar profundo.

No sábado seguinte aceitou um convite para sair.

Diego já determinado a atacar naquela noite, planejou junto com um amigo todo o desfecho daquele esperado encontro fora do berço familiar.

O cenário, um bar gay, lugar bem decorado, bem frequentado, estavam no meio do ano de noventa e dois e tudo era tão diferente dos dias atuais.

Para Diego que também não tivera qualquer experiência afetiva, somente transas, a ilusão veio de impacto, sentia-se apaixonado, aquele homem parecera tudo que sonhara ter. O cara perfeito – belo e instigante. O primeiro namorado. Uma paixão adolescente.

Sentaram-se num lugar reservado.

Tomaram alguns drinques.

E logos as bocas se encontravam com fome. Para Diego um sonho realizado, para Adilson resultado do efeito da bebida.

Quem nunca comeu melado quando come se lambuza, diz um velho ditado popular.  O casal perdeu os limites, as carícias se tornaram ardentes e impetuosas. Quem via, compreendia que se tratava de uma experiência inédita para eles.

Beberam e beijaram tanto que quando perceberam já era hora de voltar para casa.

No dia seguinte acordaram com uma ressaca. Cada uma na sua casa. A noite terminou só nos beijos e abraços mesmo, porém para Diego foi um momento guardado para sempre em sua memória. Quem sabe o tempo apagaria.

A única prova do crime foram os “chupões” que exibiam no pescoço. Isso deu uma polêmica na família.

Na semana seguinte Adilson foi mandado de volta à sua terra natal.

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