Não tinha jeito.
O sentimento por ele ultrapassou o tempo.
Tinha plena convicção disso a cada novo encontro.
Cada novo olhar.
Cada palavra…
E podia sentir seu coração descompassado, louco pra se entregar.
Coração dele.
Coração dela.
Sempre que podiam almoçavam juntos, falavam de negócios, de suas carreiras, de seus planos.
Ele contava tudo.
Em certo encontro antes do almoço a convidou para ir a uma loja comprar alguns acessórios para finalizar a reforma de sua casa.
“Mulher inventa cada uma!” – reclamou ele em tom de brincadeira “mas eu pago…”.
Ela não sentiu inveja, não sentiu despeito.
Já aceitara há anos a condição de casado dele.
Por essas e outras é que se cala, é que se sufoca e é que se segura pra não entregar outra vez tudo para ele.
Enquanto ele fazia o pagamento, apreciou seu visual.
O corpo um pouco mais forte do que antes, no rosto os sinais da maturidade.
O tempo passou.
E caiu na real de que o tempo foi seu aliado e seu maior inimigo.
Fê-la aprender viver sem ele.
Secou as lágrimas.
Trouxe outras temporadas.
Descruzou seus caminhos.
Laçou-a junto à solidão e lástima de não tê-lo nem por um momento.
“Como dói tudo isso.” – lamenta depois da despedida.
Seguem suas vidas, suas rotinas que na realidade não é, não diz nada do que sentem.