Ontem ela dizia que o amava sem receio algum…
Agora, parada pensando na vida, concluiu que seu desejo ainda a trai, mesmo sem querer.
E quem não vive dividido entre o amor e o desejo?
Peleja sem fim…
Duelo sem vencedor.
Nikka pode se avaliar uma mulher bem casada.
Tem um marido fiel, que sempre adicionou abundantemente em sua existência.
Ambos têm vinte e oito anos. Formosos, bem catalogados na sociedade. E apaixonados.
Vivem a sombra um do outro.
No entanto, Nikka às vezes se abanca cobiçando um novo toque. Querendo sentir outro odor.
Na fantasia alheia ninguém manda e muito menos sabe-se lá o que se passa naqueles pensamentos.
Talvez, o pensamento seja de fato a única coisa que realmente temos de privado.
O desejo – tornou-se palavra inimiga de Nikka.
O desejo é o inimigo de tantas pessoas mundo afora…
Ela andava pelas ruas com a cabeça nas nuvens e os olhos sempre buscando uma beleza adequada de admirar.
E nas noites tão desoladas se aconchegava nos braços do marido.
Tudo seguia seu curso habitual, mas o destino joga as cartas na mesas e quando se percebe o jogo já começou.
O jogo começou para Nikka quando se deparou com Adriano.
Adriano tinha tudo que sempre esperou.
Jovem atrevido… audacioso e saboroso.
Passou a deseja-lo nos dias e nas noites.
Imaginava-a naqueles braços enigmáticos.
Imaginava-a por um segundo mais realizada.
As histórias de amantes não poderiam ser somente temas de livros.
Tudo não passou de um sonho…
Sonho tolo de adolescente – vivendo o momento na hora inexata.
Paixão e desejo que tornaram-se pedras no caminho.
Quantas insatisfações e decepções.
O querer não realizado cria uma angústia. Uma sensação de fracasso total.
O coração pranteia em sigilo amargando todo âmago.
“Eu preciso rasgá-lo, assim como se rasga fotografias e papeis inúteis”…
Assim, passou a evitá-lo…
Tentou se voltar para o esposo.
E tudo se acertou em mais um jogo da vida.
Ah, mas Nikka ainda pensa muito nele…
Mesmo sem querer!