Vitrines Da Vida

O cobrador-trocador

Ele já ultrapassava os quarenta anos.
Homem feio, pobre de cultura e financeiramente também. Após passar por diversos serviço foi trabalhar de cobrador de ônibus, profissão tão digna e importante como qualquer outra existente no mundo.
Tem um casamento sem tempero, pois seu jeito de conduzir a vida tornou-se sua companheira cítrica demais, tipo uma limonada forte que a gente toma e faz até careta, assim é ela.
Sai de casa na parte da tarde, pois trabalha de dezesseis horas à uma hora da madrugada.
E fica ali na roleta cobrando a passagem e observando a vida alheia.
Repara em tudo.
Passageiros de todo o tipo circula por ali.
É cada tipo que causa angústia.
Quando observa alguém bem vestido tenta contato, afinal adora se sentir no meio dos que acha que é “bem favorecido”.
Das últimas viagens é que ele mais gosta, fica a vontade, fora da cadeira de trabalho, viaja em pé ao lado do motorista falando o que deve e o que não deve.
Seu português irregular dói os ouvidos.
Uma conversa tão desagradável.
Aborda os passageiros dizendo.
“Senta na frente, não roda a roleta e paga somente a metade.”
Uma promoção por conta própria. Os passageiros abordados, sem graça, de surpresa, acabam aceitando, não pelo desconto que é insignificante, mas por pena desse alguém.
E o cobrador vai arrecadando seu salário extra, provavelmente dividido com o motorista no final do expediente.
Por tão pouco vai se sujando, vai manchando sua honra, se é que foi presenteado por tal adjetivo ao nascer.
Vai roubando de dois em dois reais, ah, a empresa que ele trabalha faz um percurso para uma cidade da região metropolitana da capital mineira, motivo desse valor.
Imaginem se fossem políticos? Roubariam com requintes de ambição.
Dizem que de grão em grão a galinha enche o papo, certamente o cobrador e seu cúmplice estão satisfeitos com os pequenos desvios cometidos.
Pelo menos o almoço de domingo da família está garantido.

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