Vitrines Da Vida

Na leve escuridão da madrugada

Sua compulsiva mania fazia-a se envolver com qualquer um.
Ia para a balada nos finais de semana.
Bebia um pouco.
Dançava todos os ritmos.
Flertava com os rapazes que achava interessante.
Um jogo gostoso de sedução.
Naquela noite, exclusivamente, um lhe chamou atenção.
Tinha uma beleza.
Cor clara – a de sua preferência. Olhos do mal.
A seguir estavam conversando.
Dançavam frente a frente.
Um abraço.
Um beijo.
Mais abraços e mais beijos.
Carícias ousadas.
Respiração ofegante – dela.
Uma moça de família conservadora e rica.
Em sua aparência podia se notar que se tratava de alguém endinheirado.
Pérola com mais de vinte e cinco anos formou-se em engenharia, e é proprietária de um reconhecido escritório do ramo.
Nunca conseguiu se apaixonar.
Até teve alguns longos namoros, mas quando a coisa estava ficando séria, ela apressadamente se afastava.
E no futuro compreendera, atitude correta, já que sempre fora traída.
Traição nunca a incomodou, a mentira sim.
Porém como chegar para a pessoa amada e dizer – eu te trai hoje…
Algum tempo mais tarde Pérola estacionou o carro numa avenida deserta a pedido de seu companheiro.
“Vamos a um hotelzinho simples” sugeriu ele. “Bem simples mesmo.”
Movida pela vontade de uma boa hora de sexo não se opôs.
O local fora algo que Pérola jamais viu em sua vida.
Na entrada um velho cansado os recebeu. Entregou a chave do quarto mediante ao pagamento adiantado.
O corredor escuro.
O cheiro de sujeira no ar e no visual.
No quarto a parede encardida, uma cama de cimento com um colchão de fina espessura coberto com um lençol puído.
“Está assustada?” – perguntou abraçando-a.
Ela não respondeu abriu a janela que dava pra rua.
Estavam no segundo andar de um prédio que pedia pelo amor de Deus pra ser demolido.
O interessante jovem se despiu e tomou banho.
Voltou exibindo seu belo corpo.
Aproximou-se por trás, beijou-a no pescoço.
Em segundos Pérola tentava respirar e se livrar da gravata que ele lhe dera.
“Sua vaca, não grite e nem faça nada. Quero tudo que tiver. As joias, o dinheiro, cartão, cheque… tudo, entendeu?”
Com dificuldade ela falava.
“Sim, entendi. Pode levar tudo. Me solta, pelo amor de Deus, estou ficando sem ar. Juro que não farei nada.”
O jovem a soltou.
Pegou tudo o que queria.
Pulou a janela e correu.
Pérola ainda pôde vê-lo desaparecer na leve escuridão da madrugada, levando suas coisas, seu desejo.

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