Vitrines Da Vida

Na hora do pecado

Depois de saborear outro corpo passou a tratá-la com gentil sentimento e atenção, fora a maneira encontrada de não içar qualquer desconfiança.
Todo comportamento que foge do padrão é suspeito, porém ele não pensou nisso e todos os gestos foram interpretados somente como uma confissão. Uma forma de aliviar sua consciência, de lavar sua alma imunda.
Atenta, intuitiva e experiente há dias já sabia que havia sido traída.
Manteve-se em silêncio.
Fingiu para não sofrer.
Deu-lhe corda para se enforcar.
A certeza veio com um comentário de um amigo em comum do casal.
Revelou em simples palavras a traição, do seu amado, tudo parecia um crime perfeito, pois o dedo duro jamais imaginara que a atitude comentada era um gesto unicamente para eliminar a prova do adultério.
No momento da confissão, escutava eufórica, caindo aos pedaços de decepção, engoliu a seco um nó na garganta. Chorou por dentro.
Olhar naqueles olhos e não dizer nada seria um desafio, pois a vontade que tinha era de pular em seu pescoço e lhe quebrar todo.
No final do dia ao deparar-se com ele para sua própria surpresa não disse nada.
Ele percebeu em algum gesto que a verdade veio à tona.
Já sabia que ela sabia.
E mudou…
Da água para o vinho.
Virava-a pelo avesso.
Mas o coração não pode ser enganado, o coração finge não saber, mas percebe tudo nos mínimos detalhes.
O cheiro da traição é nostálgico e peculiar.
O beijo torna-se diferente e os gestos mesmo sem querer acabam sendo imitações dos cometidos na hora do pecado.
Ela continua calada.
E não irá dizer nada. Vai desfrutar dos tenebrosos carinhos, o deixar pensar que se safou de perder a máscara.
Seguirá até se cansar e trocar por alguém que de fato mereça o seu sentimento.

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