Vitrines Da Vida

Na hora da sua morte

Há muito tempo se sentia cansada de tudo.
Foi se dilacerando em tão alto grau com os acasos da vida, que perdera autoestima, perdera a vontade de seguir em frente.
Vivia por viver, nos dias tão iguais cumpria seus compromissos por obrigação, nada tinha sentido, nada tinha tonalidade.
Não se arrumava como antes, sempre fora tão bela, tão vaidosa, se exibia publicamente chamando a atenção por onde passava.
Agora, vive tão distante.
A tristeza veio como uma nuvem cinza em dias de sol e nublou o seu viver.
E a cada hora se entregava gradativamente ao fracasso. Quando a vida perde a graça é difícil demais.
No amor os toques são frios e o beijo sem sabor. A solidão atalha o contato com os amigos e veta novas amizades.
A infelicidade desmedida inunda o âmago o deixando cítrico. O medo invade a alma, você passa temer as coisas mais simples da vida.
A luz vai se apagando…
Lágrimas são vertidas a cada novo amanhecer, chegara o fim, não tem mais jeito. Pensara com requintes de detalhes a melhor maneira de encontrar a morte.
Tinha medo da morte, medo da dor. Será que morrer dói – se perguntava nas madrugadas em que seu sono era sugado pela amargura. Pelo desgosto.
Não fazia questão de morrer bonita, apresentar somente “aparências” como fora durante seus mais de trinta anos.
No decorrer dessa vivência fizera diversos amigos, pessoas que de fato admiraram-na, despertara diversos amores e desejos, mas nenhum envolvido foi capaz de aconchega-la em seus braços.
Naquela noite de chuva, após um verão antecipado, saiu pela cidade caminhou sob os pingos finos, que lhe molhavam a face, quem a vira não percebera sua intenção. Entrou num shopping apreciou as vitrinas, passou num empório, comprou uma garrafa de uísque importado.
Pegou o celular, discou um número – fizera seu último pedido – três caixas, por favor.
Duas horas depois começara seu ritual, cada cápsula representava uma amargura, uma derrota.
Alguns minutos depois a garrafa de uísque já se encontrava pela metade, sua visão turva fazia com que caísse mais líquido no chão do que no copo.
A morte aproximava de mansinho, como uma carícia em seu coração. Aliviava seus lamentos, seus tormentos, seus sonhos destruídos pela neblina da vida.
Quantas mágoas contidas… mesmo na hora da sua morte.
Foi abraçada totalmente, não sentira mais nada. Não havia mais nada a sentir.
Agora, quem sabe, estaria feliz.

 

 

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