Vitrines Da Vida

Com a emoção ferida

Amava-o demais.
E cada dia esse ilustre sentimento majorava, mesmo sem querer, ela sentia-se inteiramente apaixonada.
Seu deslumbrado sentimento a atalhava de distinguir a dura realidade ou se discernia, fingia não saber, para sofrer menos.
Fora traída.
Fora desrespeitada.
Fora desmoralizada.
Mesmo assim o absolveu e seguiu amando-o da mesma maneira, como se nada nunca tivesse ocorrido.
Com a emoção ferida, escravizou-se dia-a-dia para viver um relacionamento que cobiçava ter.
Tudo quimera.
Estranho sentimento que restringe, amor que destrói.
Mas o tempo altera tudo.
Como sempre digo, há coisas que somente o tempo pode deliberar.
O tempo exibe a verdade da vida.
O tempo ameniza a dor da perda, da mentira, da traição, da partida, da saudade e até da perfeita e imperfeita solidão.
Analgésico eficaz, sem efeito colateral.
Ela ingeriu desse medicamento.
E nesta temporada foi percebendo sua infelicidade, sua severa desilusão.
Enganou-se ao acreditar que uma pessoa pode mudar por amor ao outro.
As pessoas não mudam, simplesmente mudam de amor.
Por essas e outras decidiu não amá-lo mais.
Cometeria um homicídio em seu coração.
Homicídio doloso.
Crime hediondo.
Morreria aos poucos.
Com requinte de crueldade.
A dor de um sentimento morto é intensa, é difícil suportar, mesmo sem vida machuca e incomoda quem amou.
Quem amou verdadeiramente, se entregou integralmente.
Fere feito navalha afiada.
Ela vai partir. Vai apreciar outras paisagens.
Após o luto profundo vencido pelo tempo.

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