No seu sonho ninguém pode entrar, mas ele entrou no sonho dela, atrevidamente. Sem bater na porta, sem pedir licença. Foi uma invasão demasiadamente boa.
E fez tantas coisas que ela ansiou durante toda sua vida.
Ah, queria não mais acordar, assim o teria para ininterruptamente.
Despertaria ao seu lado.
Tocaria sua boca quente.
Seria amada com arrojo.
Sentiria seu corpo durante as noites frias.
Como esperara tudo isso por tanto tempo, desde a puberdade quando o fitou pela primeira vez. O amor fora despertado naquele minuto. Jamais ponderou que iria se apaixonar tão loucamente.
Acontecera num movimentado shopping da cidade, estavam na fila, à espera do pedido de um lanche. Por motejo do destino as mãos se tocaram.
Ela foi tocada no coração. Sentira algo jamais experimentado em sua vida. Uma pontada no peito, um sofrer gostoso de viver, de sentir, se declarou escancaradamente, contudo ele não munia o mesmo sentimento, pensava em outras coisas, não tinha interesse em ter uma relação séria na ocasião, tinha tanto estima por ela que preferiu não se envolver, assim evitaria feri-la inevitavelmente.
Sem saber a feriu, causou uma ferida tão densa que se enraizou por toda sua vida. Nunca mais amou ninguém, até tentou, entretanto não conseguira, foram tantos relacionamentos fracassados, com tantas pessoas interessantes, no final todos saíam machucados e magoados. Ela se sentia aos pedaços, a sensação que falhara de novo a deixava mal com si mesma.
Por esse motivo decidiu viver sozinha.
Agora, ele tem invadido seus sonhos. Deixando seu sentimento aguçado, realçado, vivo. Ao acordar se consome de dor, de saudade.
“Ah, se fosse verdade…” seria exageradamente feliz e completa.
Casada com ele não conheceria a dor do amor, a saudade poderia ser anulada quando estivesse em seus braços.
Abriria mão de tudo para que além dos seus sonhos, ele invadisse atrevidamente a sua vida.
E nem precisaria bater na porta…
Muitos sonhos viram realidade.