Vitrines Da Vida

Afiada navalha

Seis horas andando no meio da multidão estressada naquele aeroporto. Visitou todas as lojas, arriscou fazer algumas compras básicas.
Na livraria permaneceu mais tempo, ali mesmo saboreou um café com chantilly. Fora um teste de paciência tudo aquilo. Viu tantas pessoas alteradas e se manteve serena. Nada a faria perder o bom humor, pelo menos naquele dia.
O melhor dia de sua vida.
Reencontrou casualmente seu primeiro amor.
Há anos não se viam.
Há anos seguiram direções contrárias.
Constituíram família e viviam felizes.
Iludiram-se bem resolvidos. A saudade abafava nos braços dos parceiros.
Mulher bonita, próxima da quarta década ainda tinha a beleza em evidência. Desde que assumira a assessoria de um político, sempre, estava viajando. Mesmo assim conseguia conduzir bem seu lar, seus filhos e seu esposo.
Reencontrar Thiago causou-a um frio na barriga.
_ Não sabia que havia se mudado para cá! – disse ela.
_ Sim, desde que me casei. Recebi uma boa proposta de emprego.
E fizeram companhia um ao outro naquela tarde fresca.
O passado foi marcante, impossível não falar dele.
Noites de segredos…
Tantos carinhos…
Tantas carícias…
A imaturidade de Thiago foi a agente causadora da separação. Envolveu-se por impulso com uma amiga da faculdade e aquele rumor logo chegara a Gabriele.
Quanta decepção! A tristeza foi aliviada com lágrimas de dor.
A traição é uma afiada navalha.
O que doeu nem foi o contato carnal que tiveram, mas sim a falta de consideração a sua confiança. Sempre fora sincera. Jamais mentira para ele.
Tinha-o como o mais perfeito dos homens. Convivia bem com o fato de ele ser cobiçado, pudera dono de uma beleza indiscreta.
Tentou encontrar um novo alguém que pudesse lhe dar o amor que esperava – e após dois anos essa pessoa surgiu. Ela se casou.
Tomavam um drinque. Os olhos não conseguiram esconder o amor sentido e existente até hoje.
O primeiro toque nas mãos reacendeu a chama.
_ Vamos sair logo daqui – propôs Thiago.
Gabriele pensou alguns minutos. Mesmo sabendo que fazia ao esposo o pior de todos os atos – a traição, não pôde deixar de se entregar pela última vez ao amor de sua vida. Seu primeiro.
O primeiro amor dele…
O primeiro amor dela.
A terra tremeu…
Foi um terremoto nos corações dilacerados pela ausência e a saudade, quase vencidas pelo tempo.

2 COMENTÁRIOS

  1. A cada conto, uma nova emoção. A maneira como são escritos, com sutileza e elegância, levam o leitor à uma breve viagem muito proveitosa.

    Parabéns!!!

  2. Olá Silvio, sempre visito seu blog e leio o que escreve, neste conto em especial gostaria de deixar meu comentário : quando li acima “iludiram-se bem resolvidos” senti uma situação bem real com o que nos acontece quando amamos muito e por algum motivo temos que deixar passar este amor por causa de uma desilusão, de preconceitos ou mil outras razões que a vida nos impõe, principalmente se for nosso 1° amor. Não podemos esquecer que a vida é um ciclo e se ele não for completo, poderá retomado a qualquer momento com tal força que sequer imaginaríamos que pudesse existir.
    Parabéns pelos seus contos!

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