Crimes Passionais

Um casal perfeito

Os crimes de amor ocorrem todos os dias com casais anônimos e muitas vezes não são divulgados pela imprensa, que sensacionalista divulga somente o que lhe convêm.
O amor cega homens e mulheres. O amor se transforma em ódio tão intenso em uma fração de segundos. Toda beleza do início, toda magia, todos os carinhos e gestos são substituídos por uma frieza e ignorância sem limite.
Andando pelas ruas de Belo Horizonte, já vi diversas vezes casais brigando, foram apenas discussões, mas as palavras que os homens diziam feriam mais que punhal, muitas mulheres ainda continuavam seguindo os companheiros, de maneira submissa, demonstrando a perfeita forma de falta de amor próprio.
Conheceram-se no fim da adolescência, de famílias distintas, assim que terminaram a faculdade, se casaram. A cerimônia foi realizada com primor, com o requinte que manda a etiqueta da alta sociedade. Ele se tornou um empresário extremamente bem sucedido. Ela passou num concurso público e ocupou um cargo do Poder Judiciário.
A lua de mel fora na Itália, um mês de muito amor, paixão e desejo.
O casal perfeito vivia feliz.
O casal se amava, no começo, em todas as noite, eram tantas descobertas. O beijo sempre era o princípio de tudo. Logo não resistiam e as mãos atrevidas arrancavam sem autorização as roupas um do outro. Não tinha hora. Não existia lugar. As peles enlouqueciam com o calor proporcionado no encontro dos corpos.
Ela o amava demais. Sentia-se feliz e completa com cada carinho que ele fazia. Ah, como tudo era perfeito.
Chupava seu pau com amor, com desejo, momento em que sem querer chegava ao orgasmo antes dele e enlouquecia, ao ser penetrada de forma brusca.
E foi assim por muitos anos.
Mudaram para um condomínio de luxo, próximo a capital paulista.
Tiveram dois filhos, um menino e uma menina.
Jantavam fora toda sexta-feira.
Tinham um grupo seleto de amigos.
Faziam diversas viagens ao exterior…
Eram amados pelas famílias.
A vida para eles era até satisfatória demais.
Anna era a esposa feliz e completa, mas um dia sem motivo nenhum, o amor se foi, assim, de repente, sem explicação. Tudo perdera a cor. Perdera o sentido. A rotina foi implacável, veio sem cerimônia, invadiu aquela vida de forma primorosa, sem erro, sem ter como fugir da tristeza. Deixou-a nula.
“É uma fase… vai passar” – se iludia ela, que não mais suportava ser tocada e procurada pelo marido.
“Onde está todo amor e desejo que eu sentia?” – se indagava.
O amor passou… assim como quando estamos com muita fome e comemos um bom prato de comida.
Ele não aceitou o fim. Virou um bagaço. Todos notavam sua tristeza. Ia para os bares e bebia até de madrugada. Tentava se envolver com outras mulheres, mas não conseguia.
“Essa porra de pau não sobe” – admitia constrangido, no entanto ao se aproximar da esposa sentia a ereção e a rejeição.
A rejeição fere os sentimentos. Fere o orgulho. Fere, fere, fere, apenas fere sem dó nem piedade.
Certa noite chegou em casa descontrolado, foi direto para cozinha, pegou uma faca e esfaqueou a esposa ininterruptamente, foram mais de cinquenta facadas.
Ao ouvir o primeiro grito, a babá se trancou no quarto com as crianças.
Ele ainda a beijou pela última vez. Abraçou-o fortemente, gritando:
__ Eu te amo… eu te amo… eu te amo… eu te amo…, mas ela já não ouvia.
Desesperado saiu sem rumo.
Rodou a noite toda.
No começo da noite seguinte seu corpo fora encontrado num motel de luxo, em estado decadente. Ele se automutilou. Ao cair na real não podia acreditar que matara quem tanto amou durante toda sua vida. Puniu-se pelo seu pecado, mas nenhuma dor se compara a dor de ter matado o seu amor, a sua doce esposa.
Jamais poderia conviver com essa culpa. Ah, se pudesse voltar atrás.
Resolvera ir ao encontro dela.
 

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