As Desquitadas

Velha infância

Quanto tempo amando-o dedicadamente. Entregou-se completamente sem temor, sem aferir consequência, sem pensar no futuro.

Casaram num outono profundo, dia opaco. Dia inesquecível para amigos e famílias.

Todavia a vida de um casal é tão complicada, no primeiro ano tudo é novidade, até os defeitos.

Após mais algum tempo a mesmice vem chegando, de repente.

E ele se tornou mais frio do que de costume.

Evitava-a sem cautela. Ela chegava dotada de afagos, com desígnio de ser possuída, mas um balde de água fria era jogado nela, subitamente.

E cada um ia fazer suas coisas, assistiam TV lado a lado, em silêncio.

Ah, como era bom no passado.

Faziam de tudo e tudo permitido ou não, na cama desfrutavam o melhor de cada um. A hora do fazer amor, aquele amor da velha infância que quase sempre acontece tão-somente nos livros, filmes e novelas.

Era tão amada. Tão decifrada, talvez seja esse o motivo da quietude que ele portou.

A amargura foi a sequela. A dor de ser rejeitada. O tesão excomungado pelo parceiro. Dói demais. Causa tanta tristeza.

Inesperadamente, em um dia, também, de outono, no momento de carência e desejo acumulado, percebera o olhar de outro homem, não disse nada, apenas o seguiu até o inferno.

E ali queimou nos braços alheio da cobiça, do corpo necessitado de carinho, apesar de que não ter ocorrido carinhos, houve uma relação rápida, satisfatória, dessas que lhe faz perder as forças.

Como precisou disso. Como sentiu-se feliz ao ser penetrada por alguém qualquer, mas alguém que quis seu corpo. Quis possuí-la.

Depois desse casualidade não pôde mais olhar nos olhos do esposo. Não podia mais se deitar ao seu lado. Decidiu retirar-se deixando tudo para trás. Até suas coisas pessoais.

Mandou-lhe uma mensagem finalizando a relação.

Debateram via SMS o casamento fracassado, de que fora a culpa. Ele revelou sua verdade, seu coração não tinha mais amor, seu desejo preferia outras camas, outras peles, outros perfumes. Outras mãos.

O divórcio foi a solução, através dos advogados dela e dele – todas as providências foram tomadas.

Depois de tanto sufoco, ela respirava aliviada, não encontrara mais o causador de sua decisão, entretanto encontrou em tantos braços a realização que necessitava – ser desejada, ter uma vida sexual ativa, intensa, satisfatória, isso só foi possível com um e outro que encontrava por acaso em situações diferentes.

No sexo tudo estava bem, pois cada escolhido a surpreendia de uma maneira bem peculiar, porém começara outro conflito, a solidão.

A falta de alguém para dormir.

A falta de alguém somente para beijar e trocar carícias.

A falta de alguém até para lhe encher o saco.

Chegara de tomar um novo rumo sem sua vida repleta de indecisões.

 

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