As Belo-horizontinas

A diarista do Cidade Jardim

Cidade Jardim é um bairro nobre, de classe alta, da região centro-sul de Belo Horizonte. O bairro abriga, em sua grande parte, casas e a maioria dos seus moradores são idosos. É considerado um dos bairros mais nobres de Belo Horizonte. Possui um dos metros quadrados mais valorizados da cidade. O grande destaque do bairro é a arborização intensa por isso o nome Cidade Jardim, antigo nome da Capital mineira.
Todos os dias descia do ônibus na principal avenida da região uma mulher simples, contudo com uma beleza que para quem é observante, logo percebe.
Casada há mais de dez anos, Marinalva ainda vivia sonhando como uma púbere apaixonada, tudo isso porque seu cônjuge jamais fora nada do que sonhara ter.
Marinalva é um tipo de mulher fogosa, agradável, dessas que gosta sempre de chamar atenção. Ela, na realidade, queria ter se casado com um homem rico de sentimentos e de dinheiro também, não para viver no luxo, mas pelo menos para ter um pouco de conforto, já que viera de família pobre. Sempre pegara no trabalho pesado para sobreviver. Como doméstica na região nobre da cidade, ou melhor, como diarista, devido a sua faxina tão bem feita, sua fama logo se espalhara entre as madames.
Em cada casa que entrava cuidava de tudo com carinho. Entendia só de observar a mania e o gostar de cada contratante.
Marinalva vivera sempre com agenda cheia de segunda a sábado, sem trégua alguma.
Em casa aos domingos vivia infeliz, aguentava a frieza do marido. Homem sem senso, tão feio, porém se achava o tal, não tinha nada que pudesse atrair uma mulher, nada mesmo, nem estudos. A fuga era a bebida.
Bebia para esquecer a solidão.
Bebia para se sentir feliz.
Bebia e dançava sozinha na sua sala para espantar seus medos.
Quando encontrava alguém disposto a escuta-la fazia seus desabafos entre lágrimas.
Era uma mulher bonita, estava precisando ser bem tratada. Olhar para si mesma.
E foi numa dessas faxinas que sua vida começara a ser limpa.
Conhecera Ferraço, empresário bem sucedido, mal casado, já que a esposa retribuía os mimos que lhe fazia com severas traições. Homem de meia idade. Extremamente elegante.
Ele e Marinalva trocaram um olhar quente, em seguida, atentos aos demais, se beijavam intensamente, e fizeram sexo ali mesmo na área de serviço, depressa, sem ao menos tirar a roupa.
Resultado do desejo intenso.
Foi amor à primeira vista.
Os amantes queimavam de prazer todos os dias.
__ Eu te amo – dizia ele entre gemidos, deixando-a louca em meio a tantos carinhos, afagos. Era como se quisesse através de um abraço lhe mostrar seu amor, pois este abraço fora tão forte, tão que seria impossível se libertar dele.
__ Eu também te amo – declarou Marinalva.
Jamais pensou que ia dizer isso a outro homem senão ao seu marido, que tanto a desprezava, que a humilhava, que lhe tirava a autoestima. Que lhe via somente como mãe de seus filhos, nada além. Quantas lágrimas ao ouvir da boca do seu ex-amor palavras que lhe feriam os sentimentos.
Não demorou muito para Ferraço reunir sua família e revelar seu caso com a diarista.
Família mineira é sempre conservadora e isso foi um escândalo social.
Ele foi reto em sua decisão.
Hoje vivem casados e felizes.

 

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